assoladores em Santa Catarina. Na transição 2009/2010 tivemos também mortes e prejuízos causados pelas águas, no sudeste do Brasil. Naquela ocasião escrevíamos, também, sobre o terremoto no Haiti e choramos com o conseqüente sofrimento chocante e intenso daquele evento que dizimou cerca de 200 mil pessoas. Três anos depois, aquele povo ainda geme com a orfandade, dissolução social, promessas não cumpridas pela "comunidade internacional" e com a extrema e endêmica corrução arraigada naquela terra. Isso porque ainda não nos saiu da memória o Tsunami de 26.12.2004, no Oceano Índico, quando pereceram cerca de 220 mil pessoas, situação recentemente lembrada no filme "O Impossível".
Enquanto
vemos as cenas de dor e tristeza, e avaliamos tudo isso, somos levados às
Escrituras para procurar alguma compreensão trazida pelo próprio Deus, para
esses desastres. É no meio dessas circunstâncias que decidimos recolocar aqui
alguns pensamentos que já foram expressos neste Blog em posts anteriores.
Na
ocorrência de tragédias devemos resistir à tentação de procurar respostas que
diminuem a bíblica soberania e majestade de Deus, e conseqüentemente não fazem
justiça à sua pessoa, ou aquelas que nos colocam com Deus - pontificando um
julgamento divino sobre a situação imediata da ocorrência. Tais “explicações”,
“conclusões” e “construções” aparentam ser plausíveis, mas revelam-se meramente
humanas, pois contrariam a revelação das Escrituras. Esses tipos de respostas
sempre aparecem, quando ocorrem desastres; quando diversas vidas são ceifadas e
pessoas que estavam entre nós desaparecem, de uma hora para outra.
Interpretações estranhas dessas circunstâncias não são novidade e nem têm
surgido apenas em nossos dias.
Por
exemplo, em novembro de 1755 a cidade de Lisboa foi praticamente arrasada por
um grande terremoto. A conclusão emitida por padres jesuítas foi a de que:
“Deus julgou e condenou Lisboa, como outrora fizera com Sodoma”. Voltaire
(François Marie Arouet), que era um deísta, escreveu em 1756 “Poemas sobre o
desastre em Lisboa”. Ali, ele culpa a natureza e a chama de malévola, deixando
no ar questionamentos sobre a benevolência de Deus. Jean Jacques Rousseau,
respondeu com “Carta sobre a providência”. Nela ele culpa “o homem” como
responsável pela tragédia. Ele aponta que, em Lisboa, existiam “20 mil casas de
seis ou sete andares” e que o homem “deveria ter construído elas menores e mais
dispersas”. Ou seja, procurando “inocentar a Deus e a natureza” ele coloca a
agência da tragédia no desatino dos homens, de maneira bem semelhante à que os
especialistas contemporâneos e comentaristas da mídia adoram fazer.[1]
Quando
do terremoto no Haiti, à semelhança do que ocorreu no Tsunami, alguns
depoimentos de pastores, que li, falavam sobre a “mão pesada de Deus, em
julgamento”; opinião semelhante à emitida quando do acidente com o avião que
transportava o grupo “Mamonas Assassinas”, em 1996. No entanto, nenhuma pessoa
tem essa capacidade de julgamento, que reflete apenas orgulho e prepotência.
Mas
outros procuram uma teologia estranha às Escrituras, para “isolar” Deus da
regência da história. São os mesmos que, quando da ocorrência do Tsunami e do
acidente ocorrido com o Vôo 447 da Air France em junho de 2009, emitiram a
seguinte conclusão: “Diante de uma tragédia dessa magnitude, precisamos
repensar alguns conceitos teológicos” (veja as
excelentes reflexões sobre esse último desastre, no post do Augustus Nicodemus,
neste mesmo blog). No entanto, em vez de formularmos nossa teologia
pelas experiências, voltemo-nos ao ensinamento do próprio Jesus.
Graças
a Deus que temos, em Lucas 13.1-9, instrução pertinente sobre como refletir
sobre desastres e tragédias. A primeira tragédia tratada é aquela gerada por
homens (Vs 1-3). Certos galileus haviam sido mortos por soldados de Pilatos. A
Bíblia diz que “alguns” colocaram-se como críticos e juízes (a resposta de
Jesus infere isso); deduziram que aqueles que haviam sofrido violência humana,
sangue derramado por armas (um paralelo às situações que vivemos nos nossos
dias) seriam mais pecadores do que os demais. No entanto, o ensino ministrado
pelas Escrituras é o seguinte: Não vamos nos colocar no lugar de Deus. Não
vamos nos concentrar em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas.
Jesus, em essência diz: cuidem de si mesmos! Constatem os seus pecados!
Arrependam-se!
Mas
ele nos traz, também, um segundo tipo de tragédias. Esta que é referida é
semelhante, guardadas as proporções, a essas enchentes e deslizamentos, ou ao
terremoto do Haiti. São tragédias classificadas como “fatalidades”. Jesus fala
da Torre de Siloé. O texto (Vs 4-5) diz que ela desabou, deixando 18 mortos.
Jesus sabia que mesmo quando, aos nossos olhos, mortes ocorrem como
conseqüência de acidentes, isso não impede que rapidamente exerçamos
julgamento; não impede que tentemos nos colocar no lugar de Deus. E Jesus pergunta,
sobre os que pereceram: “Acham que eram mais culpados do que todos os demais
habitantes da cidade”? O ensino é idêntico: Não se coloquem no lugar de Deus;
não se concentrem em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas; cuidem
de si mesmos! Constatem a sua culpa! Arrependam-se!
O
surpreendente é que Jesus passa a ilustrar o seu ensino com uma parábola
(Vs.6-9). Ele fala de uma figueira sem fruto. Aparentemente, a parábola não
teria relação com as observações prévias, mas, na realidade, tem. Ela nos
ensina que vivemos todos em “tempo emprestado” pela misericórdia divina. O
texto nos ensina que:
•
Figueiras existem para dar frutos - o homem vinha procurar frutos - essa era
sua expectativa natural. Todos nós fomos criados para reconhecer a Deus e dar
frutos. Esse é o nosso propósito original.
•
Figueiras sem frutos “ocupam inutilmente a terra”. O corte é iminente, e
justificado a qualquer momento.
•
O escape: É feito um apelo para que se espere um pouco mais, na esperança de
que, bem cuidada e adubada, a figueira venha a dar fruto e escape do corte.
•
Lições para o vizinho? Jesus não apresenta a figueira como um paralelo para
fazermos uma comparação com outras pessoas – cujas existências foram ceifadas
como vítimas de violência ou fatalidades. Ele quer que nos concentremos em nós
mesmos, em nossas próprias vidas, pecados e na necessidade de arrependimento.
•
Tempo emprestado: O que ele está ensinando e ilustrando, aqui, é que nós, você
e eu, como os habitantes de Santa Maria, as vítimas do Tsunami, na Ásia, ou os
habitantes do Haiti, vivemos em tempo emprestado; vivemos pela misericórdia de
Deus; vivemos com o propósito de frutificar, de agradar o nosso proprietário e
criador.
Creio
que a conclusão desse ensino, é que, conscientes da soberania de Deus e de que
ele sabe o que deve ser feito, não devemos insistir em procurar grandes
explicações para as tragédias e fatalidades. Jesus nos ensina que teremos
aflições neste mundo (João 1.33) - essa é a norma de uma criação que geme na
expectativa da redenção. 1 Pe 4.19 fala dos que sofrem segundo a vontade de
Deus. Lemos que não devemos ousar penetrar nos propósitos insondáveis de Deus;
não devemos “estranhar” até o “fogo ardente” (1 Pe 4.12).
Assim,
as tragédias, desde as locais pessoais até as gigantescas, de características
nacionais e internacionais, são lembretes da nossa fragilidade; de que a nossa
vida é como vapor; de que devemos nos arrepender dos nossos pecados; de que
devemos viver para dar frutos.
Também,
não cometamos o erro de diminuir a pessoa de Deus, indicando que ele está
ausente, isolado, impotente. Como tantas vezes já dissemos, “Deus continua no
controle”. Lembremos-nos de Tiago 4.12: “um só é legislador e juiz - aquele que
pode salvar e fazer perecer”. Não sigamos, portanto, nossas “intuições”, no
nosso exame dos acontecimentos, mas a Palavra de Deus. Como nos instrui 1 Pe
4.11: “ se alguém falar, fale segundo os oráculos de Deus”.
Em
adição a tudo isso, não podemos cometer o erro de ser insensíveis às tragédias
- Pv 17.5 diz: “o que se alegra na calamidade, não ficará impune”; mesmo
perplexos, sabendo que não somos juízes nem videntes. Devemos nos solidarizar
com as vítimas, na medida do possível e atravessar portas de contato e
transmissão das boas novas divinas àqueles que Deus venha, porventura, colocar
em nosso caminho.
Solano
Portela
[1]
Folha de S. Paulo 28/12/2004; Jornal do Commércio - Recife - 2/1/2005, de onde
foram extraídas as citações desse trecho.
Fonte:http://www.renatobromochenkel.com.br/2013/01/a-tragedia-de-santa-maria.html
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