terça-feira, 19 de abril de 2016

CAPÍTULO - 4: Os Benefícios da Justificação

Romanos 5.1-4
Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.


Um Olhar em duas Direções
“Sendo, pois, justificados pela fé... ” (5.1a). Há um consenso entre os comentaristas que a seção que começa no capítulo cinco de Romanos é uma transição entre Romanos 1.18— 4.25 e Romanos 5.1— 8.39. Ela é, portanto, o elo que liga o que vem antes e o que vem depois. Retrospectivamente, Romanos 5.1 mostra o fato do que seja a justificação em Cristo Jesus. Por outro lado, olhando prospectivamente, Romanos 5.1 também enxerga aquilo que vem como resultado dessa justificação. É um olhar para a frente. Stanley Clark destaca que “a diferença de opinião a respeito de se associar o capítulo 5 com os capítulos anteriores (3.21— 4.25) ou depois (6.1— 8.39) sugere que seu papel é transitório; isto é, especialm ente verdadeiro para os primeiros 11 versos. Em alguns aspectos, Romanos 5 olha para trás, para a gloriosa verdade da justificação do homem pela fé. No entanto, os conceitos vertidos têm mais em comum com 6.1— 8.39 com 3.21— 4.25. O tema da seção inteira (5.1— 8.39) que é ‘justificou a nova vida do homem’”.



Temos Paz!
“.. temos para com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo ” (5.1b). O efeito imediato da justificação é a paz com Deus. Os manuscritos gregos pertencentes ao texto crítico do Novo Testamento trazem a palavra “tenhamos” em lugar de “temos”. Todavia, os eruditos em Novo Testamento observam que a evidência interna do contexto dessa passagem exige o sentido presente do verbo. Nesse caso, a tradução “temos” é preferível.2 A paz com Deus é, portanto, uma realidade presente na vida do crente. Ela é a coroação ou resultado imediato da justificação. Não é algo que vamos ter somente no futuro, mas é algo que o crente já desfruta agora. Toda a argumentação de Paulo aponta na direção do aqui e agora na vida do crente. Andrew Murray, antigo expositor bíblico, comenta: “A paz com Deus é uma bênção coordenada à justificação, que se realiza sob circunstâncias de condenação e de sujeição à ira de Deus; e a justificação contempla nossa aceitação diante de Deus, como justos. E o pano de fundo é a nossa alienação diante de Deus; a paz com Deus contempla nossa restauração ao favor e à luz do rosto divino. O fato de que a paz com Deus recebeu a preeminência dentre as bênçãos provenientes da justificação é coerente com o status que a justificação nos assegura. ‘Paz com Deus’ denota relacionamento com Deus. Não se trata apenas de serenidade e tranquilidade de nossas mentes e corações; mas refere-se ao estado de paz que flui da reconciliação (w. 10,11) e reflete-se, primeiramente, sobre nossa alienação de Deus e nossa restauração ao favor divino. A paz da mente e do coração procedem da ‘paz com Deus’, sendo o reflexo em nossa consciência do relacionamento estabelecido pela justificação”.


A Porta da Graça!
 ‘pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (5.2). A graça de Deus é o coração da Carta aos Romanos. Tudo gira em torno dela. O expositor bíblico William Barclay, perito em grego neotestamentário, captou muito bem o sentido desse texto no original. Aqui o quadro pintado por Paulo mostra a grande porta que a justificação pela fé nos abriu. Quando essa porta se abre e entramos por ela, encontramo-nos com a graça. Não com o julgamento, recriminação ou condenação, mas com a gloriosa graça de Deus.4 Nos últimos anos tem havido um verdadeiro despertar da graça. Mas é preciso olhar com cuidado para esse despertamento. Nem tudo que se passa por graça tem realmente graça. Na verdade, há uma graça sendo pregada e ensinada por aí que não tem graça alguma! A graça que justifica o pecado em vez do pecador, observou Dietrich Bonhoeffer, é uma graça barata.5 A graça de Deus é justificadora e perdoadora, mas também é responsabilizadora. "... e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (5.2). Os comentaristas Sanday e Headlam destacam que “é a glória da presença divina (Shekinah) que é comunicada aos homens (parcialmente aqui, mas) em plena medida, quando ele entrar por completo na sua presença; então o homem por inteiro será transfigurado por Ele”.6 O apóstolo via aqui, como destacou o expositor bíblico Frédéric L. Godet, o elevado sentimento de segurança pela alegria antecipada do nosso triunfo.7 Essa esperança, portanto, tem uma dimensão escatológica. Os crentes se regozijam pela esperança de um futuro que, embora ainda não desfrutado em toda a sua plenitude aqui, mas que já está construído por Deus. "... nos gloriamos nas tribulações” (5.3). A imagem que temos quando lemos essas palavras de Paulo nos dá a impressão de que ele parece subir degraus com seu argumento. Primeiramente ele fala da graça como uma grande porta aberta que nos conduz até a presença da majestade divina.8 A nossa caminhada até lá é um andar movido pela esperança. Mas nesse caminho existem pedras! Enfrentamos lutas, angústias, tribulações. Mas não é motivo para desânimo, pois isso é parte natural desse caminhar. O sofrimento ou tribulações são usados por Deus para moldar nossa vida. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento destaca que o termo tblipsesin, traduzido aqui como “tribulação”, quer dizer pressão? Nada disso serve de motivo para o desânimo, nem mesmo as pressões, porque elas conduzem à perseverança. "... a tribulação produza paciência” (5.3). A tribulação produz a paciência. “Nunca poderíamos desenvolver ‘paciência’ se nossas vidas estivessem isentas de problemas”, destaca William Mcdonald.1 “... e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança” (5.4). Paulo chega agora ao estágio em que o cristão, provado pela fornalha da vida, cresceu em maturidade. Agora ele tem experiência nessa caminhada. Essa experiência lhe dá a certeza de que a sua jornada é alicerçada na esperança da vida do Reino. Não é uma esperança que olha o vazio, mas uma esperança escatológica, eterna, que se plenifica em Deus.


Romanos 5.5-11
E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado. Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.


Ninguém nunca Fez isso!
A nossa esperança, observa o apóstolo Paulo, não pode ser confundida porque se fundamenta na certeza. A certeza que vem com o amor de Deus que é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo. Passamos então a experimentar o grande amor de Deus que o levou justificar ímpios pecadores. O teólogo suíço Karl Barth assim se expressou sobre essa passagem: “Gloriamo-nos, pois, na esperança, porque ela não está fundamentada em ação de nosso espírito de criaturas, mas no Espírito Santo que nos foi outorgado, mediante o derramamento do amor de Deus em nossos corações. O Espírito Santo é a obra de Deus, na fé; é o poder criador e redentor do Reino de Deus que está próximo e que, pela fé, tange o mundo dos homens e o faz ressoar como o cristal às vibrações do diapasão. O Espírito Santo é o eterno ‘Sim’ da fé que, vista do lado humano, apenas pode ser descrita como negação e vácuo; ele é o milagre inicial e criativo desta fé. O Espírito Santo é igual a Deus e por ele Deus tributa justiça ao que crer”.11 “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (5.8). Martinho Lutero (1483-1546), reformador alemão, colocou em destaque o amor de Deus pelos pecadores quando resumiu o capítulo 5 em seu prefácio da Carta aos Romanos. “No quinto capítulo, ele fala dos frutos e das obras da fé, quais sejam: paz, alegria, amor a Deus e a todos, além de segurança, confiança, ânimo e esperança em tristeza e sofrimento. Pois, onde a fé for verdadeira, tudo isso resulta do bem superabundante que Deus nos demonstra em Cristo: de tê-lo feito morrer por nós antes mesmo de lho podermos pedir quando ainda éramos inimigos. Temos, portanto, que a fé justifica sem quaisquer obras e, mesmo assim, não sucede daí que não se deveria fazer boa obra, e sim, que as obras justas não ficam ausentes; destas, porém, os santos por nada saberem [19] inventam para si mesmos obras próprias, que não contêm nem paz, nem alegria, nem segurança, nem amor, nem esperança, nem porfia, tampouco qualquer tipo de obra e fé cristã direta”


Romanos 5.12-21
Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou; porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor.


A Culpa não Foi só de Adão
“Pelo que, como por um homem entrou 0 pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (5.12). Estamos diante de um dos textos que centrais na doutrina da justificação pela fé. Todavia, um dos mais controvertidos dessa carta. Como outras passagens de Romanos, essa Escritura está sujeita a calorosos debates. Há pelo menos uma meia dúzia de interpretações sobre essa porção da Escritura; todavia, o debate em torno desse texto não é novo. Em parte, esse debate tem sido motivado pela disputa em torno da expressão grega eph’hoipantes hemarton, que aparece no final do versículo 12 do capítulo 5 de Romanos.
      Como é de se esperar, as versões bíblicas não são unânimes na tradução dessa passagem. Porém, as controvérsias começaram quando Agostinho (354-430 d.C.), bispo de Hipona, que não era versado em grego bíblico, seguiu a versão latina “in quo”, traduzindo erradamente a preposição grega epb’hoi (porque) com o sentido de “em quem”.u A sentença grega “porquanto todos pecaram”, ou “porque todos pecaram”, no texto de Agostinho ganhou o sentido apenas de “em quem todos pecaram”.15 Isso significa que todos os homens estão ligados seminalmente ao seu antepassado Adão.16 Essa crença do bispo de Hipona conduziu-o a acreditar que “os homens estavam maculados pelo pecado original, que lhes foi transmitido de geração em geração, e que por isso não mereciam ser salvos”.17 Esse fato, segundo Agostinho, levou Deus a arbitrar a salvação para alguns e a condenação para outros.18
      Na teologia do bispo de Hipona, a faculdade humana do livre-arbítrio também foi afetada. Ele não negou que o homem possuísse livre-arbítrio depois da Queda. Pelo contrário, até mesmo achou que se tratava de um bem necessário. Todavia, por causa do pecado original, ele acreditava que o homem ficou incapacitado de escolher aquilo que é bom. Nesse aspecto, o mal moral devia-se ao livre-arbítrio humano. Agostinho confirma sua concepção radical do cativeiro do livre-arbítrio quando escreve: “Quando o homem pecou por seu próprio livre-arbítrio, nesse caso, tendo o pecado sido vitorioso sobre ele, a liberdade da sua vontade foi perdida”.19 Em outra obra, o Livre-Arbítrio, Agostinho, escreveu: “Mas quanto a esse mesmo livre-arbítrio, o qual estamos convencidos de ter o poder de nos levar a pecar, pergunto-me se aquele que nos criou fez bem de no-lo ter dado. Na verdade, parece-me que não pecaríamos se estivéssemos privados dele”.20
      A argumentação de A gostinho, com o foi demonstrado, ficou comprometida quando se sabe que a exegese feita por ele partiu de uma tradução equivocada do texto de Romanos.21 O expositor Giuseppe Barbaglio comenta que “a versão da Vulgata — ‘no qual (Adão) todos pecaram’ — na qual, por exemplo, S. Agostinho se apoiou, aduzindo uma prova fácil demais da doutrina do pecado original, deve ser excluída, porque é errada”.22 Por sua vez, o teólogo Millard J. Erickson destaca que Agostinho entendia que “a oração final, no versículo 12, no sentido de que nós estávamos realmente “em Adão” e, portanto, o pecado de Adão também era nosso. Mas como sua interpretação baseou-se numa tradução inadequada, precisamos analisar melhor a oração gramatical. Devemos perguntar o que significa “todos os homens pecaram”.23 Não significa, evidentemente, a condenação de uns para o céu e outros para o inferno, nem tampouco a supressão do livre-arbítrio humano. Erickson destaca, por exemplo, que o Senhor Jesus não considerou como condenados aqueles que ainda não tinham atingido a idade da capacidade moral. “Há vários indicadores nas Escrituras de que as pessoas não são moralmente responsáveis antes de certo ponto, o que às vezes chamamos de ‘idade da responsabilidade’ (Mt 18.3; 19.14; 2 Sm 12.23; Is 7.15; Jn 4.11)”.24 E conclui que fica “o fato evidente de que, antes de determinado momento na vida, não existe responsabilidade moral, pois não há consciência do certo e do errado”.25 Agostinho, portanto, criou um conceito de depravação no pecado que vai muito além daquele que é mostrado na Escritura. Uma exegese mais fiel ao texto confirm a a corrupção do pecado e a consequente natureza pecaminosa humana; todavia, não da forma extremada como ensinou Agostinho.
Uma compreensão adequada do texto de Romanos 5.12 nos conduz a juntar unidade-universalidade. Giuseppe Barbaglio com enta com muita precisão que “não se trata, porém, de um esquema mecânico: a solidariedade que está na base não tem mão única; não envolve, fatal e necessariamente, todos os homens na esfera de ação de um só. Paulo, de fato, se dissocia da concepção típica do mito gnóstico, que via a humanidade como uma massa de vítimas inconscientes de um trágico evento originário. Ele introduz no esquema um decisivo elemento de liberdade e de responsabilidade, afirmando que o influxo de um sobre todos é condicionado pela adesão destes. Portanto, o destino humano é requerido, escolhido. No versículo 12, de fato, à causalidade de Adão ele acrescenta a decisão negativa de todos os homens: ‘por causa de um só homem o pecado entrou no mundo... porque todos pecaram. A humanidade se fez solidaria com seu cabeça ao pecar. O apóstolo não está muito distante de um significativo texto judaico, que chega a dizer: ‘Se o primeiro Adão, pecou e trouxe a morte para todos os que ainda não existiam, todos os que dele nasceram, todavia, prepararam para a própria alma os suplícios futuros; cada um escolheu as glórias futuras... Porque Adão não foi a causa única, sozinho; em relação a nós todos, cada um é, para si mesmo, Adão. Mas, diferentemente da teologia judaica, ele acentua um fator subjetivo, atribuindo à lei divina um papel ativo na proliferação dos pecados’ (cf. v. 20)”.
      A ideia de uma culpa apenas compulsória, que não leva em conta as liberdades humanas, como cria Agostinho, deve ser rejeitada. O expositor Adolf Pohl confirma esse entendimento quando diz: “A amplitude do poder do pecado e da morte soma-se sua profundidade. Nossa escravização também é nutrida pelo próprio pecado cometido em atos: porque todos pecaram (Rrn 2.12; 3.23). Em última análise, a miséria da humanidade consiste em sua culpa. Sem este adendo de fundamentação, nossas condições de vida seriam entendidas como uma fatalidade compulsória. Porém, trata- se de história pessoal, na qual as condições jamais servem de desculpa para o próprio fracasso (Rm 1.21). Também fora do Paraíso continua em vigor que: ‘a ti cumpre dominá-lo (o pecado)!’ (Gn 4.7). Ainda que não tenhamos de nos responsabilizar pelo fato de estarmos no mundo, temos de fazê-lo em relação aos nossos pecados de fato”.
      Em uma bela e longa exposição sobre o pecado, a culpa e a liberdade de escolha, o expositor M illard J. Erickson, conclui: “Em Romanos 5, o paralelismo que Paulo traça entre Adão e Cristo em termos do relacionam ento deles conosco é impressionante. Uma declaração semelhante é vista em 1 Coríntios 15.22: ‘Pois, assim como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados’. Ele afirma que, de forma paralela, o que os dois fizeram tem influência sobre nós (assim como o pecado de Adão leva à morte, o ato de justiça de Cristo conduz à vida). Que paralelo é esse? Se a condenação e a culpa de Adão nos são atribuídas sem que tenhamos alguma escolha consciente do ato que ele praticou, a mesma lógica será necessariamente válida para a atribuição da justiça de Cristo e de sua obra de redenção. Mas será que sua morte nos justifica simplesmente por causa de sua identificação com a humanidade por meio da encarnação, sem depender da aceitação pessoal e consciente de sua obra? E será que a graça de Cristo é atribuída a todos os seres humanos assim com o pecado de Adão é igualmente atribuído a todos? A resposta mais comum dos evangélicos é negativa; há muitos indícios da existência de duas categorias de pessoas: as perdidas e as salvas, e de que som ente a decisão de aceitar a obra de Cristo pode torná-la eficaz em nossa vida [...] todos nós participamos do pecado de Adão e, portanto, recebemos tanto a sua natureza corrupta após a Queda quanto a culpa e a condenação vinculadas a seu pecado. No entanto, na questão da culpa, assim como na atribuição da justiça de Cristo, é preciso haver uma decisão voluntária e consciente de nossa parte. Enquanto isso não ocorre, existe apenas uma atribuição condicional de culpa. Portanto, não há condenação antes da idade da responsabilidade”.


Evitando os Extremos
      Quando se afirma que o homem é moralmente responsável por suas escolhas, tendo livre-arbítrio, não devemos incorrer no erro pelagiano.30 Pelágio deu ênfase exagerada à responsabilidade moral e seus resultados, tornando a santidade um mero subproduto do esforço humano. Parte desse entendimento pelagiano originou-se da sua revolta quando leu as Confissões de Agostinho e as achou fatalista e derrotista. Agostinho estava em um extremo e Pelágio foi para o extremo oposto. O erro de Pelágio, como bem observou David Pawson, foi desenvolver uma perspectiva demasiadamente elevada da força de vontade humana. Dessa forma, todos podem tomar a decisão de fazer o bem e ser justos, independentemente do concurso da graça. Ao assumir essa posição, Pelágio negou a doutrina do pecado original (herdado) de Agostinho. Não havia, portanto, nenhuma corrupção herdada nem nenhuma inclinação para o mal. Cria que as pessoas eram inerentemente boas. Como ele negou a queda, não havia, portanto, necessidade de expiação ou regeneração.
      Lembro-me de uma história que li há algum tempo, que serve para ilustrar o que está exposto em Romanos 5.12 e que está sendo afirmado aqui. Conta-se que um velho lenhador trabalhava em uma fazenda. Seu trabalho era rachar toras de madeira para uso da fazenda. Certo dia, enquanto passeava pela fazenda, o proprietário escutou o velho lenhador se lastimar da sorte. Ele dizia: “Adão, Adão, você me paga”. Vendo as lamúrias do velho lenhador, o fazendeiro se aproximou e perguntou a razão que o estava levando a se lamentar. Ele então disse ao patrão que Adão era o responsável por aquela situação, pois, se não tivesse pecado, ele não estaria ali. Imediatamente o fazendeiro mandou-o abandonar o seu machado e se dirigir para a casa na fazenda.
      Chegando ali, o fazendeiro disse: “A partir desse momento você não precisará mais rachar lenha. Você terá novas atribuições. Seu trabalho agora é ficar na varanda da casa fazendo o serviço de vigilância com o direito de beber limonada na hora que quiser!” O velho lenhador foi às lágrimas. Quando ainda se refazia de suas emoções, o fazendeiro concluiu: “Mas o senhor não pode abrir aquela caixa fechada que está em cima do peitoril  da casa”. O velho lenhador balançou a cabeça afirmativamente. Pensando com seus botões, ele achou suas novas atribuições um presente de Deus.
      Os dias passaram e o velho lenhador se regozijava de sua nova situação. Não estava mais trabalhando de sol a sol, mas na sombra da casa da fazenda. Passaram-se duas semanas e ele continuava firme em seu propósito de obedecer ao seu patrão e não tocar na caixa secreta que estava no peitoril da casa. Na terceira semana, veio-lhe a curiosidade de saber o que estava dentro daquela caixa. Por que ele não poderia tocá-la? Resolveu então tocar levemente na caixa. Foi o suficiente para observar por uma abertura que havia algo dentro da caixa — um pequeno pedaço de papel. Todos os seus instintos vibraram! O que poderia estar escrito nele? Passou, então a racionalizar: Por que ele não poderia abrir a caixa e ler o papel? O que havia de mal nisso ? Ponderou.
      Na quarta semana, o velho lenhador não resistiu à tentação e abriu a caixa! Quando retirou o pequeno papel, o seu conteúdo dizia: “Velho lenhador, a culpa não foi só de Adão. Volte já para o campo para rachar lenha”.



      Sim, a culpa não foi só de Adão. Romanos 5.12 tem um sentido solidário, em que todos nós participamos da culpa de Adão, porque todos nós estávamos no lombo de Adão. Todos nós também somos responsáveis individualmente por nossos pecados e pelas escolhas que fazemos. O expositor bíblico Joseph A. Fitzmyer sublinha esse fato quando afirma: “No versículo 12, Paulo atribui a morte a duas causas, relacionadas entre si: a Adão e a todos os pecadores humanos”.33 Comentando Romanos 5.12, o expositor J. D. G. Dunn escreveu: “O que Paulo parece querer dizer é o seguinte: 1) Toda humanidade compartilha uma servidão comum ao pecado e à morte. Não se trata apenas da carnalidade natural, uma mortalidade criada. O pecado está ligado com isso, uma não correspondência ao melhor intencionado por Deus. A morte é o resultado de uma ruptura na criação. 2) Há dois lados nesse estado de coisas, envolvendo tanto o pecado como um dado do tecido social da sociedade e o pecado como uma ação imputável de responsabilidade individual”
      Alguns intérpretes insistem na sua fidelidade à interpretação agostiniana, não aceitando o fato de que o homem é um ser moralmente livre e que pode sim decidir-se pelo bem ou pelo mal. A meu ver, há muita tinta gasta, sem sucesso, na tentativa de provar, a partir de Romanos 5.12 (somados com outros textos bíblicos), que a crença na solidariedade da raça na queda de Adão jogou o homem numa total depravação pecaminosa a ponto de excluir a sua capacidade da livre-escolha. Para esses intérpretes, o homem “morto no pecado” não possui nenhum tipo de sensibilidade espiritual. A afirmação de Robert D. Culver, por exemplo, no sentido de que “as Escrituras ensinam a ausência completa de vida espiritual nos homens decaídos”, apenas perpetua o erro agostiniano.35 A tentativa de usar Efésios 2.1 como texto prova, com o argumento de que esse homem está morto e não pode escolher nada, reflete mais uma crença na tradição teológica agostiniana do que o entendimento bíblico desse texto. Esse entendimento equivocado tem feito com que wesleyanos e arminianos sejam acusados por Culver de tenderem a “minimizar a incapacidade total dos irregenerados nas questões espirituais, relacionadas a Deus, para tanto minimizando a força da linguagem bíblica sobre ela, dizendo por exemplo que ‘mortos em [...] transgressões e pecados [Ef 2.1; cf. cl 2.13] é apenas uma figura de linguagem’. O homem, dizem eles, ‘ainda tem livre-arbítrio’. Mas Paulo não está usando uma figura”.
O argumento de Culver é mais dogmático do que ortodoxo, e não reflete o pensamento bíblico. E impossível não enxergar um sentido metafórico na palavra “morto” quando observamos que Paulo usou desse tipo de recurso linguístico em outros textos de suas cartas. “Levanta-te de entre os mortos” (Ef 5.14); “vejam-se como mortos para o pecado” (Rm 6.11); “o qual dá vida aos mortos” (Rm 4.17); “sem lei está morto o pecado” (Rm 7.8); “nós morremos para o pecado” (Rm 6.2); “já morremos com Cristo” (Rm 6.8); “vós estais mortos para a lei” (Rm 7.4). Em todas essas passagens, o apóstolo atribuiu um sentido figurado a palavra “morto”; então por que somente em Efésios 2.1 ele lhe daria um sentido literal? Parece-me uma aporia difícil de ser superada. “Morto para o pecado”, portanto, carrega uma carga metafórica. Em palavras mais simples, a doutrina da natureza corrompida é bíblica, mas afirmar que ela deixou os homens totalmente impossibilitados de escolherem o bem ou o mal não é.
      A depravação no pecado ensinada pelas Escrituras afirma sua dimensão corporativa, sem , contudo, negar sua dimensão m oral e pessoal. Portanto, a afirmação de Culver de que o homem não regenerado é totalmente insensível para a realidade espiritual se ajusta mais ao pensamento de Agostinho do que ao pensamento de Paulo. Nesse aspecto é preciso destacar que a expressão “morto espiritual” deve ser entendida como “separado de Deus”, e não “insensível para as realidades espirituais”. O homem, mesmo separado de Deus, não deixou de possuir a capacidade de escolher o bem ou o mal. Pelo contrário, ele pode sim aceitar ou resistir a graça que lhe é oferecida. A graça, portanto, não é fatalista nem tampouco irresistível. Um dos princípios básicos da filosofia do direito é que onde não houver livre escolha não há também responsabilidade moral.


O segundo Adão
“Pois assim como por uma só ofensa veio o juizo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação de vida” (5.18). O primeiro Adão colocou a raça nas sombras do pecado. O quadro realmente era desesperador. Um pecou, logo todos pecaram! Um desobedeceu, logos todos desobedeceram. Paulo não explica como isso aconteceu, mas onde aconteceu — na queda do primeiro homem. Passamos a carregar conosco a natureza adâmica, todavia sem deixarmos de ser responsáveis pelos nossos atos. A queda depravou a raça, mas não lhe tirou o livre-arbítrio. Não há responsabilidade moral sem livre escolha.
      O apóstolo agora mostrará que por intermédio de um homem, Jesus Cristo, o segundo Adão, veio a graça sobre todos os homens! Adão derrubou o homem. Por outro lado, Jesus veio levantar esse homem caído: “Veio a graça sobre todos os homens” (5.18). E a vontade de Deus salvar a todos (1 Tm 2.4). Stanley Clark fez o seguinte paralelo entre o primeiro e o segundo Adão: o pecado entrou por Adão, a vida entrou por Cristo; a morte reinou desde Adão até Moisés, a vida reina mediante Jesus Cristo; a ofensa de um alcançou a todos, a justiça de um alcançou a todos; pela desobediência de um todos foram feitos pecadores, pela obediência de um muitos serão constituídos justos”. A Ele toda honra e toda glória.




1 CLARK, Stanley. Romanos — Comentário Bíblico Mundo Hispano. El Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano, 2006. 2 “Bruce M. Metzger destaca em seu aparato crítico, que representa o texto crítico dos manuscritos mais aceitos, que “ainda que o subjuntivo exômen conte com mais respaldo externo do que o indicativo exomen, a maioria do Comitê julgou que, neste caso, a evidência interna deve ter precedência. Com esta passagem, Paulo parece não estar exortando, senão afirmando fatos concretos (a “paz” é possessão dos que já
A Graça e o Problema da Culpa | 55 foram justificados), somente o indicativo concorda«m o argumento do apóstolo. Posto que na época helenística praticamente não havia nenhuma diferença entre a pronúncia do 0 e 0, é possível que Paulo tenha ditado exomen e seu amanuense Tércio (16.22) haja escrito exómeri' (METZGER, Bruce M. Un Comentário Textual a lNuevo Testamento Griego. Sociedade Bíblicas Unidas). Por outro lado, o termo “temos” em vez de “tenhamos” aparece nos manuscritos do texto receptus. Em muitos casos, como demonstrou Gilbert Pickering, doutor em linguística e PhD em manuscritos gregos, o texto receptus é preferível ao texto crítico adotado acima por Metzger. Veja, por exemplo, a redação de Lucas 4.44, onde o texto crítico traz “sinagogas da Judeia” enquanto o texto receptus traz “sinagogas da Galileia”. Evidentemente que há uma imprecisão na redação do texto crítico aqui, já que Jesus foi pregar nas sinagogas da Galileia, e não da Judeia, como demonstra o texto receptus. A nossa tradução (ARA), mesmo baseando-se no texto crítico, preferiu seguir neste ponto o texto receptus. (Veja a crítica mordaz que faz Gilbert Pickering ao texto crítico na sua obra: Q ual é 0 Texto Original do Novo Testamento?). 3 MURRAY, Andrew. Komanos— Comentário Bíblico Fiel. São José dos Campos, São Paulo: Editora FIEL, 2003. 4 BARCLAY, William. Komanos — Comentário A l Nuevo Testamento Griego. 17 tomos. Barcelona, Espanha: Editorial CLIE. 5 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal. 6 SANDAY, William & HEADLAM, Arthur C. The International Critical Commentary on the Holy Scripture: A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Komans. Edimburgo: T & T Clark: 1962. 7 GODET, Frederic L. Commentary of St Pauls’ Epistle of the Romans. Nova York: Funk & Wagnalls, 1883. 8 Sanday e Headlam destacam que o quadro é o de um súdito entrando na presença real. SANDAY, William & HEADLAM, Arthur C. The International Critical Commentary on the H of Scripture: A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Komans. Edimburgo: T & T Clark, 1962. 9 COENEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova. 10 MCDONALD, William. Romanos — Comentário Bíblico de W illiam McDonald. Barcelona, Espanha: Editorial CLIE. 11 BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2009. 12 LUTERO, Martinho. “Prefácio à Epístola de S. Paulo aos Romanos, 1546”. In: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, volume 8. Porto Alegre: Editora Sinodal, 2003, p. 130. 13 The Greek New Testament. United Bible Societies, 1994. 14JERÔNIMO, São. Bíblia Sacra Vulgata. Stuttgart, Alemanha: Deutsche Bibelgesellchaft, 1983.
56 | Maravilhosa G raça 15 O teólogo Augustus Nicodemus destaca que “Agostinho, apesar da influência platônica que sofreu, foi um mestre da exegese bíblica. E verdade que não conhecia nem o grego nem o hebraico, mas uma coisa o destaca: seu desejo de interpretar a Palavra em seu sentido óbvio, simples e evidente, mesmo que isso trouxesse algumas dificuldades” (NICODEMUS, Augustus. A Bíblia e seus Intérpretes — Uma Breve História da Interpretação. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013, p. 147). 16 Salmos 51.5 também era usado por Agostinho para validar seu argumento do pecado hereditário. O teólogo Oswald Bayer comenta: “Desde Agostinho, o texto do salmo e o termo ‘pecado hereditário’ associaram-se, na história da teologia e da piedade, com concepções biologistas, que situam a transmissão do pecado hereditário exclusivamente no ato reprodutivo” (OSWALD, Bayer. A Teologia de Mortinho Tutero. Editora Sinodal, 2007). 17 Champlin, Russel N. Enáckpéãa de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Editora Candeia. 18 Essa concepção agostiniana passou a ser conhecida como predestinacionismo, que quer dizer, Deus determina para o bem e para o mal as liberdades (GROSSI, V. in Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Editora Vozes / Paulus, 2002). 19 AGOSTINHO. The Enchiridion: On Faith, Hope and hove. Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 1980. O escritor R. C. Sproul, um defensor da teologia agostiniana, tenta reinterpretar, a meu ver sem sucesso, essa afirmação do bispo de Hipona alegando que ele não quis dizer o que disse (SPROUL, R. C. Sola Gratia — A Controvérsia sobre o Uvre-Arbítrio ao Longo da História da Igreja. Editora Cultura Cristã, 2012). 20 AGOSTINHO. O Livre-Arbítrio. São Paulo: Editora Paulus, 1997. Norman Geisler acredita que as controvérsias que Agostinho teve com Pelágio o levaram a radicalizar sua compreensão do livre-arbítrio, confirmando teoricamente sua existência, todavia negando-o na prática. Percebi esse fato quando cursava Filosofia na Universidade Federal do Piauí. Na cadeira História da Filosofia II (Agostinho e Tomás de Aqmno), ficou perceptível para mim que aquilo que o bispo de Hipona tinha dado com uma mão (a liberdade de escolha) ele tomou com a outra (supressão dessa liberdade). Infelizmente a tradição protestante histórica se apegou a esse erro agostiniano. 21 Os teólogos Douglas Moo e John Stott seguem a tradução agostiniana levemente adaptada. Assim é que Moo traduz Romanos 5.12 como: “todos pecaram” significando “todos pecaram em e com Adão” (MOO, Douglas. Romanos — Del Texto Bíblico a una ExpUcaáon Contemporânea. Editorial Vida. Da mesma forma, Stott traduz como: “Todos morreram porque todos pecaram em e através de Adão, o representante ou cabeça da raça humana” (STOTT, John. A Mensagem de Romanos. São Paulo: Editora ABU, 2000). 22 BARBABLIO, Giuseppe. Romanos — A s Cartas de Paulo II. São Paulo: Edições Loyola, 1991, p. 204, 205. Veja uma argumentação semelhante feita pelo expositor bíblico C. B. Cranfield: “A explanação mantida por Agostinho, que considerou o significado de Paulo como o de que todos os homens pecaram em Adão em virtude de sua identidade seminal com o seu antepassado está sujeita a séria objeção no sentido de que a palavra “homem” está demasiado distante para ser antecedente
A Graça e o Problema da Culpa | 57 natural do pronome relativo” {Romanos — Comentário Versículo por Versículo). C. K. Barrett, erudito em Novo Testamento, também nega que haja base em Romanos 5.12 para se estabelecer uma relação seminal com Adão. (BARRETT, C. K. The Epistle to Romans — Black’s New Testament Commentary. Londres: Continuum, 1991). 23 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 2013. 24 Idem. O expositor Dale Moody também faz uma crítica a esse entendimento de Agostinho: “Baseando-se nessa tradução errada [Agostinho], desenvolveu a sua doutrina do pecado original, entendido como culpa herdada, e o resultado foi um quadro lúgubre de crianças não batizadas no inferno”. (Comentário Bíblico Broadman. JUERP) 25 ERICKSON, Millard J. op.cit. 26 Posteriormente, tanto Lutero como Calvino construíram seus sistemas doutrinários sobre a depravação no pecado a partir de Agostinho. Veja uma exposição completa sobre as teses de Lutero sobre o livre-arbítrio e a influência que sofreu de Agostinho na obra do escritor Oswald Bayer: A Teologia de Martinho Tutero. São Leopoldo, Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 2007. Por outro lado, a influência de Agostinho sobre Calvino pode ser vista na obra Contra 0 Calvinismo, de autoria de Roger Olson, Editora Reflexão. 27 BARBAGLIO, Giuseppe. Romanos — A s Cartas de Paulo II. São Paulo: Editora Loyola, 1991. 28 POHL, Adolf. Carta aos Romanos— Comentário Esperança. Curitiba, Paraná: Editora Evangélica Esperança, 1999. 29 ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Vida Nova, 2013. 30 Como bem mostrou Roger Olson, conceituado teólogo arminiano, a acusação feita a Armínio de que ele era pelagiano não resiste aos fatos históricos. Armínio, além de defender a doutrina da depravação no pecado, acreditava também que a salvação dependia da graça de Deus, independentemente das obras. Ele defendia que todo o processo da salvação tem origem na graça de Deus, e não no homem. O que Armínio defendeu, com apoio bíblico incontestável, é que os homens podem aceitar ou rejeitar a graça oferecida. Muita coisa que é atribuída a Armínio na verdade não foi dita por ele, da mesma forma, como demonstrou Norman Geisler, muito que foi atribuído a Calvino não dito realmente por ele. Geisler, observa, por exemplo, que nesse aspecto nem Calvino foi calvinista. Veja uma exposição detalhada na obra de Roger Olson: Contra 0 Calvinismo (Editora Reflexão) e Eleitos, porém Eivres, de Norman Geisler (Editora Vida). 31 PAWSON, David. Una Ve\ Salvo, Para Siempre Salvo? — Un Estúdio sobre la Perseverando ela Herenda. Grã-Bretanha: Anchor Recordings, 2015. Um estudo exaustivo sobre esse assunto é encontrado na obra de 801 páginas de Daniel D. Corner: The Believers’ Conditional Security [A Doutrina da Segurança Condicional do Crente], Washington, PA: Evangelical Outreach, 2000). 32 LINDSAY, Hall. A Viagem da Culpa. Editora Mundo Cristão.
58 | Maravilhosa G raça 33 FITZMYER, Joseph. Romanos — Nuevo Comentário Bíblico San Jeronimo. Estella, Navarra: Editorial Verbo Divino. 34 DUNN, J. D. G. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Editora Paulus, 2003, p. 130-133. 35 CULVER, Robert. Teologia Sistemática — Bíblica e Histórica. São Paulo: SHEDD Publicações, 2012. 36 Idem, p. 522. A tentativa de Culver de identificar a teologia arminiana como sendo de natureza semipelagiana baseia-se em fontes secundárias e não tem fundamentação histórica. É uma ilação que é contraditada pelas próprias obras de Armínio. 37 CLARK, Stanley. Romanos — Comentário Bíblico Mundo Hispano. El Paso, Texas: Editorial Mundo Hispano.


Por
Dc. Geazi Santos


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