O
Carnaval Pagão é uma festa que tem sua origem nos cultos agrários da Grécia, em
que se celebrava a fertilidade e produtividade do solo. Pisistráto, que
governou Atenas entre 546 e 527 a.C., oficializou o culto a Dionísio, o deus
grego equivalente ao deus romano Baco, das festas, do vinho, do lazer e do
prazer, filho de Zeus e da princesa Semele, o único deus filho de uma mortal.
O
Carnaval Cristão passa a existir quando a Igreja Católica oficializa a festa,
em 590 d.C., cedendo aos anseios populares. O que era considerado ocasião para
a libertinagem passou a ser cerimônia oficial com certos limites estabelecidos
para conter a carnalidade do povo: "se você não pode vencer seu inimigo,
alie-se a ele". Mas em 1545, no Concílio de Trento, o Carnaval é
reconhecido como uma manifestação popular de rua, e sua data é fixada em 1582
pelo Papa Gregório XIII, quando da transformação do Calendário Juliano para
Gregoriano, sempre no 7º domingo que antecede ao domingo de Páscoa.
No
Brasil o carnaval chega em 1723, trazido pelos portugueses das Ilhas da
Madeira, Açores e Cabo Verde, com o primeiro registro de baile em 1840, de
onde, em 1855, surgiram os primeiros grandes clubes carnavalescos, precursores
das atuais escolas de samba.
A
festa ganhou diferentes cores na celebração popular. Desde os blocos de rua,
com suas manifestações pitorescas e despudoradas, passando pelos bailes de
salão, com todos os seus ingredientes de gala, luxo e lixo, e também enchendo
as ruas com trios elétricos e foliões de abadá, especialmente no Nordeste, e
escolas de samba, mini óperas de rua, que desfilam pelos sambódromos cantando
temas que incluem, por exemplo, uma homenagem a Tom Jobim, uma versão
alternativa da história do Brasil ou a chamada de atenção à questão ecológica.
Minha
lembrança mais remota do carnaval me remete ao Rio de Janeiro, meados da década
de 70, quando eu corria apavorado fugindo dos "bate bola", garotos
mascarados que vinham em bandos batendo no chão uma espécie de bixiga de pele
curtida que fazia um barulho tenebroso - uma versão tupiniquim do Halloween,
com diferença de que não me lembro se eles pediam balas e doces ou apenas tocavam
horror.
Em
todas as suas manifestações não há como deixar de relacionar o carnaval com a
festa da carne, que o relaciona ao hedonismo puro, quando se busca o prazer do
corpo acima e antes de tudo, e sugere uma "licença para pecar",
especialmente os pecados sexuais, relacionados com lascívia e luxúria - a
Prefeitura de Recife pretende distribuir a pílula do dia seguinte, um
contraceptivo de emergência, usado após o "sexo casual", e que
objetiva impedir ou retardar a liberação do óvulo pelo ovário, impossibilitando
a fecundação, ou impedir a nidação, fixação do óvulo fecundado no útero (que
polêmica, hein?!). Fica entendido por que depois vem a quarta-feira de cinzas,
dia de jejum e abstinência, quando alguns cristãos de tradição católica romana
rememoram sua mortalidade, usando as cinzas à luz do simbolismo bíblico para o
arrependimento perante Deus. A quarta-feira de cinzas ocorre sempre um dia
depois da terça-feira gorda, o último dia da temporada de Carnaval e também, ou
justamente, o último dia em que se pode comer carne, vindo em seguida a
Quaresma, quarenta dias de jejum em preparação para a Páscoa.
A
festa do carnaval, na cultura cristã católica ocidental, tem seu simbolismo
claro: vamos todos morrer, e o melhor que temos a fazer antes disso é mergulhar
de cabeça em todos os prazeres possíveis, que sabemos efêmeros e insuficientes
para nos conduzir à plenitude da vida, possível apenas na ressurreição.
Considerando, entretanto, que a carne é fraca, celebramos sua festa, mas não
sem o cuidado de nos arrependermos, ainda que um arrependimento inconsistente,
é verdade, apenas uma preparação para morrer bem, em vez de tomada de
consciência para viver melhor.
Fonte: http://www.search?q=carnaval+
Por
Dc. Geazi Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário