segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Lição 7 - A Vinha de Nabote

A história do rei Acabe é a evolução de uma sequência de erros: Primeiramente ele trocou o Deus verdadeiro por um falso. Isso ele fez quando tentou erradicar o culto ao Senhor e implantar a adoração cananeia no deus Baal. Em segundo lugar, ele tentou substituir os profetas do Senhor pelos profetas de Baal. Para que seu intento fosse alcançado, promoveu o extermínio dos profetas verdadeiros e pôs em seus lugares os profetas de Baal e de Aserá. Em terceiro lugar, ele tenta transformar uma vinha cm uma horta. 

O problema residia no fato de que a vinha não era dele, mas de um dos seus súditos que como legítimo proprietário possuía seu direito de posse. Em conluio com sua esposa, a famigerada Jezabel, esse rei fraco e sem personalidade arquiteta uma das mais sórdidas tramas registradas nas páginas Sagradas — a morte do inocente Nabote. E exatamente nesse último episódio que Acabe recebe a visita do profeta Elias, que ao contemplá-lo anuncia um duro julgamento sobre ele (1 Rs 21.1-29).

O episódio envolvendo o rei Acabe e a vinha de Nabote é um dos mais tristes do registro bíblico. Uma grande injustiça é cometida contra um homem inocente. Triste porque vemos até onde pode chegar um coração cobiçoso.1 Por outro lado, esse fato é um dos que melhor revela a manifestação da justiça divina ante as injustiças dos homens. Acabe matou Nabote e apropriou-se de suas terras, todavia não pôde participar do fruto de seu pecado porque o Senhor, através do profeta Elias, o denunciou e o disciplinou.
Infelizmente a injustiça está presente em todas as culturas e povos, e se manifesta das mais variadas formas.

O direito à propriedade no Antigo Israel
De acordo com o livro de Levítico, a terra pertencia ao Senhor (Lv 25.23). Um israelita da Antiga Aliança estava consciente de que o Senhor havia lhe dado o direito de explorar a terra como uma concessão. Assim sendo, ele não poderia vender aquilo que lhe fora dado como uma herança do Senhor. O livro de Números destaca esse fato: “Assim, a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se hão de vincular cada um à herança da tribo de seus pais” (Nm 36.7,9). Com isso o Senhor queria proteger seu povo da cobiça, além de garantir-lhe o direito de cultivar a terra para sua subsistência.

A herança de Nabote
Acabe queria a vinha de Nabote de qualquer jeito, mas diante de sua insistência, Nabote contra argumentou (1 Rs 21.3). Nabote era obediente ao Senhor e invocou o poder da lei para se proteger. Diante desse fato o rei cobiçoso ficou triste, pois sabia que até mesmo um monarca hebreu precisava se submeter à lei divina (1 Sm 10.25). Mas Jezabel, sua esposa, que viera de um reino pagão, ficou escandalizada com esse fato. Entre os reinos pagãos os governantes não eram apenas soberanos, eram também tiranos (1 Rs 21.5-7). Dessa forma ela arquitetou um plano para se apossar da vinha de Nabote (1 Rs 21.8-14).
Os comentaristas Jamieson, Fausset e Brown (1994, pp.288,289) destacam que: “Acabe estava desejoso, devido à proximidade do seu palácio, de possuir esta vinha para fazer uma horta. Propôs a Nabote dar-lhe uma melhor em troca, ou obtê-la por compra; mas o dono se negou a se desfazer dela; e ao persistir em sua negativa, Nabote não foi motivado por sentimentos de deslealdade ou por falta de respeito ao rei, senão por uma consideração consciente da lei divina, a qual por razões importantes havia proibido a venda de uma herança paterna; ou se por extrema pobreza ou dívida, fosse inevitável a cessão dela, a transferência era feita sob a condição de que fosse resgatada a qualquer momento; e em todo caso, que seria devolvida a seu dono no ano do jubileu. Enfim, não poderia ser desanexada da família, e foi por esse motivo (v.3) que Nabote se negou a cumprir a demanda do rei. Não foi, pois, alguma ignorância ou falta de respeito que irou e desgostou a Acabe, senão seu espírito egoísta que não podia tolerar ser frustrado em seu propósito”.3

A casa de campo de Acabe e sua horta
Como já ficou demonstrado, o livro de 1 Reis destaca que Acabe possuía uma segunda residência em Jezreel (1 Rs 18.45,46). Era uma casa de verão. Já vimos que a vinha de Nabote estava, pois, localizada próxima a residência de Acabe (1 Rs 21.1). Acabe possuía uma casa real, uma casa de campo, mas não estava satisfeito enquanto não possuísse a pequena vinha do seu súdito Nabote.4 Há um grande número de pessoas, mesmos sendo ricas, que não se satisfazem com o que tem. Estão sempre querendo mais, todavia não conseguem encontrar satisfação verdadeira nesse processo. Nenhum ser humano conseguirá se satisfazer plenamente se o seu centro de satisfação não estiver em Deus.
Acabe estava dominado pelo desejo de “ter”, de possuir. Somente a casa de verão, que sem dúvida era majestosa, não lhe satisfazia. Queria agora construir ao seu lado uma horta para que seus desejos pudessem ser realizados. Não se importava em quebrar o mandamento divino: “Não cobiçarás” (Êx 20.17). Queria por que queria aquilo que pertencia a outrem (1 Rs 21.1,2). Mais do que qualquer motivação externa, Acabe estava totalmente dominado pelos desejos cobiçosos de seu coração. Acabe, portanto, estava mais preocupado com questões estéticas do que éticas. Ele não estava preocupado como agradar a Deus através de sua administração, mas como desfrutar prazerosamente a vida.
Uma excelente exposição sobre o ato de “desejar”, tanto em seu aspecto positivo como negativo, foi feito pelo reverendo J.A. MacDonald na obraThe Pulpit Commentary (2011, pp.520,521).
Em primeiro lugar, MacDonald observa que o simples desejo não se configura como cobiça. Ele destaca que a troca é um dos princípios naturais do comércio, visto que se as pessoas não tivessem vontade de irem além do que já possuem, então não haveria motivos para se fazer negócio algum. Todo comércio está fundamentado sobre o desejo de se fazer intercâmbio.
Em segundo lugar, MacDonald destaca que o comércio pode se configurar como uma fonte de bênçãos. Ele põe em relevo os males que se juntam ao comércio como, por exemplo, quando práticas desonestas se agregam a ele. Mas ele observa oportunamente que essas intrusões ilegítimas devem ser vistas como exceções e não como se fossem a regra. O fato é que o comércio genuíno coloca os países e povos do mundo inteiro em intercâmbio. Dessa forma, o comércio amplia o nosso conhecimento desses países, seus povos e produtos, o que de outra maneira estimula a ciência. Ele também incentiva a filantropia. Socorro é oferecido para angústias que vem através de: fomes, inundações, incêndios, terremotos, e dessa forma missões religiosas são organizadas.
Em terceiro lugar, observa MacDonald que o desejo ilícito se configura em cobiça. Assim sendo não devemos desejar aquilo que Deus já proibiu. Nesse sentido, Acabe estava errado em querer a vinha de Nabote. Era herança de seus pais, transmitida na família de Nabote, desde os dias de Josué, e que teria sido ilegal se ele se desfizesse dela. (Lv 25.23; Nm 34.7). Acabe estava errado em tentar fazer Nabote transgredir o mandamento do Senhor. Ele nunca deveria ter incentivado o desejo, uma gratificação que teria uma consequência.
MacDonald conclui chamando a atenção para o estudo sistemático da Palavra de Deus como uma forma de proteção contra toda prática errada. Não podemos alegar ignorância quando temos a Bíblia em nossas mãos. Também não podemos transferir agora a nossa responsabilidade para os outros. Fazemos pouco uso de nossas Bíblias? Será que a lemos em oração? Não devemos vender a herança moral que temos recebido do passado.5

Falso testemunho, assassinato e apropriação indevida
As atitudes de Acabe foram acontecendo como uma reação em cadeia. E evidente que um desejo pecaminoso não pode dar frutos bons. O problema agora não era somente de Acabe, mas também da sua famigerada mulher, Jezabel (1 Rs 21.7). Foi ela que arquitetou um plano sórdido para se apossar da propriedade de Nabote. Diz o texto sagrado que ela envolveu várias pessoas nesse intento, incluindo os nobres do reino (1 Rs 21.8). Nobres sem nenhuma nobreza! Escreveu uma carta e selou com o anel de Acabe, portanto, com o seu consentimento, para que Nabote, o Jezreelita, fosse acusado de ter blasfemado contra Deus e contra o rei (1 Rs 21.10).6 Um falso testemunho. Um simples desejo que evoluiu para a cobiça e transformou-se em falso testemunho.
A trama precisava ser bem feita para não gerar desconfiança, e por isso um jejum deveria ser proclamado, como sinal de lamento por haver Nabote blasfemado contra Deus (1 Rs 21.9). Uma prática religiosa foi usada para dar uma roupagem espiritual ao caso. Como foi planejado, Nabote foi apedrejado e morto injustamente! (1 Rs 21.13). Quantas vezes a Bíblia é usada para justificar práticas pecaminosas! Resolvido o problema, agora o rei poderia se apoderar da vinha de Nabote (1 Rs 21.16). Um abismo chama outro abismo. O pecado havia evoluído da cobiça para um assassinato!

Julgamento divino
Acabe e sua esposa Jezabel estavam convencidos de que ninguém mais sabia dos seus intentos. De fato ninguém dentre o povo soube dos bastidores desse estratagema diabólico, exceto Elias, o Tesbita.Tão logo Acabe se apossou da vinha de Nabote, a Escritura diz: “Falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o Senhor: Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? Dir-lhe-ás mais: Assim diz o Senhor: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo” (1 Rs 21.17-20). Deus, portanto, envia o seu julgamento como punição contra a desobediência (Lv 26.14-16; 2 Co 7.19,20); desprezo às advertências divinas (2 Cr 36.16; Pv 1.24-31; Jr 44.4-6); murmuração contra Deus (Nm 14.29); idolatria (2 Rs 22.17; Jr 16.18); iniquidade (Is 26.21; Ez 24.13-14); pecados dos líderes (1 Cr 21.2,12).7

Arrependimento e morte
Duas atitudes podem ser tomadas diante de uma sentença divina de julgamento: arrepender-se ou rejeitar a correção. No caso de Acabe o texto sagrado destaca que logo após receber a profecia sentenciando a sua morte, ele: “rasgou as suas vestes, cobriu de pano de saco o seu corpo e jejuou; dormia em panos de saco e andava cabisbaixo. Então, veio a palavra do Senhor a Elias, o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se humilha perante mim? Portanto, visto que se humilha perante mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei sobre a sua casa” (1 Rs 21.27-29). Acabe arrependeu-se, mas mesmo assim não teve como se livrar das consequências de suas ações (1 Rs 22.29-40; 2 Rs 1.1-17). O pecado sempre tem seu alto custo!
Mesmo no caso de Acabe, a graça de Deus superabunda! A graça de Deus é de fato algo surpreendente! A graça faz com que um julgamento iminente seja adiado! E, contudo, no Novo Testamento que encontramos quão maravilhosa é a graça de Deus. Vejamos alguns fatos sobre essa graça:

1.  A graça é salvadora — “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). A nossa salvação tem origem na graça de Deus; não foi fruto de méritos pessoais! Todos pecaram (Rm 3.23), mas a graça foi estendida a todo pecador. Onde deveria haver o julgamento, a graça trouxe o perdão! Onde deveria haver morte, a graça trouxe a vida. O texto do capítulo 27 de Atos dos Apóstolos ilustra o poder dessa graça. Esse capítulo revela que o apóstolo Paulo, com muitos outros detentos, era conduzido a Roma para ser julgado. No total estavam no navio 276 pessoas. O texto não diz, mas podemos imaginar que havia no meio dos detentos aqueles que haviam sido presos por roubo, homicídios, etc. Quando o navio ameaçou afundar, os soldados eram de opinião que os presos, inclusive o apóstolo Paulo, deveriam ser mortos! Todavia Paulo já havia sido revelado que Deus, por sua graça, não permitiria que ninguém daquele navio morresse naquele naufrágio. Deus poupou a vida não somente da tripulação do navio, mas de todos os demais presos (At 27.22-44)!
2.   
2. A graça impede que o passado nos machuque — ‘Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co 15.9-10). Paulo disse que não merecia ser um apóstolo e, se dependesse do seu passado jamais teria sido. Mas a graça foi muito além disso, ela não levou em conta o seu passado e não permitiu que ele machucasse o apóstolo. Não havia mais passado!

3. A graça nos faz operantes — “Trabalhei mais do que todos eles" (1 Co 15.10). Sem dúvida, Paulo foi o mais ativo dos apóstolos. Por quê? A resposta está no poder da graça de Deus na vida dele. A graça nos tira de uma vida sem sentido e inoperante para nos dar um sentido para viver. A graça nos fortalece!

4. A graça nos ajuda a conviver com as adversidades — “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.8Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Co 12.7-10).

A graça de Deus fez com que o apóstolo encontrasse até mesmo no sofrimento razão para se alegrar! Isso soa muito diferente das mensagens pregadas hoje em dia por aqueles que se intitulam “apóstolos”. Esses apóstolos de hoje pregam uma vida abastada e livre de sofrimento. Todavia é um evangelho desprovido da graça de Deus.

5. A graça nos faz vitoriosos — ‘Graça a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57). A graça nos faz vitoriosos!
O relato da vinha de Nabote revela que o pecado não compensa. Todas as nossas ações terão consequências, e algumas delas extremamente amargas. Deveríamos medir nossas intenções primeiramente pela Palavra de Deus e somente assim evitaríamos dar vazão aos nossos instintos. Nossas ações glorificariam a Deus em vez de satisfazer nossos egos. Acabe fracassou porque se esqueceu da Palavra de Deus, preferindo ouvir e seguir a orientação de uma pagã que nada sabia sobre a Lei do Senhor.
Quando alguém quebra a Palavra de Deus, na verdade é ele quem está se quebrando!
O texto nos mostra que o nosso Deus é em primeiro lugar onisciente. Acabe fez suas ações sem o conhecimento do povo, mas não de Deus. Ele inspeciona todas as ações dos homens. Ele é um Deus que perscruta todas as nossas motivações. Isso nos leva à conclusão que nada está oculto aos seus olhos. Por outro lado, o relato nos mostra que o Senhor é grande juiz. Ele faz com que experimentemos o amargor de nossas ações quando elas estão erradas. Essa passagem também demonstra que todo julgamento atende ao propósito de Deus.

Fonte:http://www.renatobromochenkel.com.br/2013/01/licao-7-vinha-de-nabote-1.html

Por
Dc. Geazi Santos


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