quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

LIÇÃO 9 Elias no Monte da Transfiguração -- (01)


INTRODUÇÃO

Se olharmos com cuidado para o que revela o texto de Marcos 9.29, observaremos algumas características do cristianismo transfigurado, isto é, que brilha. Quais, pois, seriam essas características desse cristianismo que brilha? Aqui vão algumas delas:

1. Ele escala montes — “dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte” (Mc 9.2). E interessante observarmos que os outros discípulos, nove deles, haviam ficado embaixo, pois, o Senhor Jesus levou consigo somente a Pedro, Tiago e João (v.2)...



 Os outros haviam ficado embaixo, não subiram o monte. Quem não sobe o Monte não terá vitória nas lutas espirituais. Escrevi sobre isso quando tratei sobre a vida do patriarca Abraão:“Vai-te a terra de Moriá” (Gn 22.1). Deus mandou Abraão subir o monte Moriá! Ninguém será abençoado sem escalar o monte! É necessário subir o Moriá de Deus e encontrar a bênção no seu cimo. Hoje está na moda subir o “monte” como um lugar místico em busca da bênção! Mas a Escritura mostra que como princípio, subir o monte está associado à necessidade de se buscar ou subir até a presença de Deus e não a geografia de um lugar (Jo 4.20-24). O monte pode ser o nosso quarto ou o templo da igreja ou ainda qualquer outro lugar (Mt 6.6; At 16.13,16). Quem ora hoje no monte Sinai, monte Moriá ou mesmo em Jerusalém não leva nenhuma vantagem sobre quem, por exemplo, ora numa pequena cidade do sertão nordestino ou na grande São Paulo. A geografia não é mais importante e sim a esfera e a atitude na qual a oração acontece, isto é, no Espírito (Ef 6.18; 1 Tm 4.7)”.1

2. Ele é metamorfoseado — “Foi transfigurado diante deles” (v.2). A palavra traduzida em português como “transfigurado” corresponde ao vocábulo grego metemorphôté, que é o aoristo passivo de metamorphóô? Esse mesmo vocábulo é usado pelo apóstolo Paulo em Romanos 12.1,2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
O expositor bíblico William Barclay em seu comentário da Epístola aos Romanos, observa que: “Não devemos adotar as formas do mundo; sem transformar-nos, quer dizer, adquirir uma nova maneira de viver. Para expressar esta verdade Paulo usa duas palavras gregas quase intraduzíveis, que requerem uma frase para transmitir seu sentido. A palavra que usa para amoldar-nos ao mundo é syschematizesthai, da raizschema—de onde vem a palavra portuguesa e quase internacional schema —, que quer dizer formaexterior que muda de ano em ano e quase de dia a dia. O schema de uma pessoa não é o mesmo quando tem 17 anos e quando tem 70; nem quando sai do trabalho e quando está numa festa. Está mudando constantemente. E como se Paulo dissesse: Não cuideis de estar sempre em dia com todos os modismos deste mundo; não sejais ‘camaleões’, tomando sempre a cor do ambiente”.3 Por outro lado, continua Barclay em sua análise:
“A palavra que (Paulo) usa para transformai-vos de uma maneira distinta da palavra do mundo émetamorphusthai, da raiz morfé, que quer dizer a natureza essencial e inalterável de algo. Uma pessoa não tem o mesmo schema aos 17 e aos 70 anos, todavia possui a mesma morphè (essência); o macacão não tem o mesmo schema do vestido de uma cerimônia, mas possui a mesma morphê; muda seu aspecto exterior; pelo que segue sendo a mesma pessoa. Assim, disse Paulo, para dar culto e servir a Deus temos que experimentar uma mudança, não de aspecto, senão de personalidade. Em que consiste essa mudança? Paulo diria que, por nós mesmos, vivíamos kata sarka (segundo a carne), dominados pela natureza humana em seu nível mais baixo; em Cristo vivemos kata Christon (segundo Cristo) ou kata Pneuma (segundo o Espírito), sob o controle de Cristo e do Espírito. O cristão é uma pessoa que mudou em sua essência: agora vive, não uma vida egocêntrica, senão cristocêntrica. Isto deve ocorrer, diz Paulo, pela renovação da mentalidade. A palavra que ele emprega para renovação é anakainosis. No grego há duas palavras para novo: neós e kainósNeós se refere ao tempo, e kainós ao caráter e a natureza. Um lápis recém fabricado é neós\ mas uma pessoa que era antes pecadora e agora e está chegando a ser santa é kainós. Quando Cristo entra na vida de um homem, este é um novo homem; tem uma mentalidade diferente, porque tem a mente de Cristo.”4

3. Ele é fundamentado na Palavra de Deus — ‘E apareceu-lhes Elias com Moisés” (v.4). Todos os intérpretes entendem que os nomes “Elias” e “Moisés” representam figuradamente a Palavra de Deus. Elias representa os profetas enquanto Moisés, a Lei. O cristianismo deixa de ser autêntico quando se distancia da palavra de Deus. Em outro livro de minha autoria, escrevi: Uma igreja modelo possui como fundamento a Palavra e o Espírito. Somente o Espírito sem a Palavra de Deus incorre-se em fanatismo; todavia a Palavra sem o Espírito não passa de ortodoxia morta. O correto é termos o equilíbrio entre a Palavra e o Espírito. O principal mal do pentecostalismo contemporâneo é essa falta de equilíbrio entre a Palavra e o Espírito. Como vimos um carismatismo sem fundamento bíblico transforma-se em desvios, modismos, inovações, desvios doutrinários evoluindo para doutrinas heréticas.5

4. Ele promove espanto — ‘Pois não sabiam o que dizia, porque estavam assombrados” (v.6). Uma das tragédias do cristianismo hodierno é que ele não promove mais espanto! Um grande número de cristãos parece ter se acostumado com uma vida religiosa onde nada mais é novo. Não há espanto algum! Mas experimentar espanto diante do sagrado é um fenômeno presente nas religiões. Mircea Elliade (2008, pp.16,17) destaca que o homem “descobre o sentimento de pavor diante do sagrado, diante dessemysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser.”6
Esse espanto diante do sagrado, do totalmente outro, nós encontramos no relato da Pesca Maravilhosa (Lc 5.1-11)
Quando Pedro viu o que ocorrera, prostrou-se aos pés do Senhor e exclamou: “Retira-te de mim, porque sou pecador” (v.8). E o texto ainda diz que a admiração apoderou-se de seus companheiros! (v.9). Esse é um cristianismo que promove espanto! Que causa admiração!

5. Ele possui imanência — ‘Saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi”(v.7). O cristianismo bíblico é transcendente, isto é, Deus é totalmente outro e não pode ser confundido com suas criaturas. Todavia ele possui também imanência. Não está solto em um universo metafísico onde a realidade espiritual é algo inatingível. Não, o nosso Deus se faz presente no nosso dia a dia (SI 46.1). Ele possui voz, portanto, possui a faculdade da fala. Não é mudo! É bom sabermos que quando oramos não estamos presos em um monólogo, mas estamos nos relacionando com um Deus que também fala.

6. Ele não faz publicidade — “E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto” (v.9). Isso me chama a atenção, pois quem não gostaria de noticiar um feito desses? O cristianismo midiático de hoje faz isso o dia todo. Gosta de ser visto, admirado e paparicado. E exibicionista! Todavia o cristianismo bíblico não faz propaganda, mas é visto. E visto porque é uma obra do Espírito Santo e não do homem. O cristianismo da mídia gosta de números, de multidões e de muito dinheiro. Mas é um cristianismo pobre!

7. Ele tem ressurreição, mas também tem morte — “E eles retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos (...) E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará; e como está escrito do filho do homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado” (v.10,12).
O cristianismo bíblico possui ressurreição, mas também possui morte! O texto de Lucas 9.31, que é paralelo a esse e diz: “os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.” Hoje se fala muito em “vitória”, mas nada de morte. O cristianismo contemporâneo tem pavor da morte! Não quer morrer, mas não tem vida! Só há ressurreição se houver morte! Precisamos morrer para que possamos viver.

8. Ele tem consciência escatológica — ‘E interrogaram-no, dizendo: por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?”(v. 11). O cristianismo bíblico possui um forte apelo escatológico, pois não é imediatista e preso a esta era. Ele tem seu olhar no futuro! Crer na parousia do Senhor. Ele sabe que tudo aqui é efêmero, como a neblina que se dispersa! Em meu livro: Rastros de Fogo, escrevi:“É falso qualquer suposto movimento espiritual que alega ser herdeiro do avivamento bíblico, mas que possui uma visão escatológica deformada ou mutilada. Os autênticos movimentos de avivamento ao longo da história da igreja foram logo reconhecidos como tal porque possuíam um entendimento correto da escatologia bíblica. No atual pentecostalismo observa-se um distanciamento cada vez mais crescente da escatologia bíblica. E a pregação do imediatismo, do ineditismo e mercantilismo que tem reinado nesses últimos anos no carismatismo contemporâneo”.7

9. Não pode ser resumido a um simples debate teológico — “E, quando se aproximou dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e alguns escribas disputavam com eles”.
Quando a fé cristã se resume a uma simples controvérsia teológica, então ela perdeu sua essência. O cristianismo bíblico não pode ser resumido a um mero debate de ideias. Há muita “teologia” sendo debatida por ai, mas são debates estéreis que não promovem a verdadeira edificação. Ela se resume na sua maioria a um confronto ideológico entre confissões religiosas. Cristianismo é vida, é Espírito, é a Palavra de Deus. O texto mostra que os discípulos que ficaram no vale se limitaram a debater com os escribas, e pelo visto estavam em desvantagem. Os escribas eram bons de debates teológicos, mas ineficientes em promover uma fé viva no povo. A teologia não deve servir apenas como alimento do intelecto, mas também da alma. O Senhor Jesus afirmou que “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4).

10. Ele não se resume a um produto cultural — “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei ainda? (v.19). Entendo que o termo “geração” aqui pode ser traduzido como cultura. Por que as pessoas daquela cultura eram tão incrédulas? Não foi aquela geração a escolhida por Deus para ver a manifestação do Messias (G1 4.4)? Parece que os discípulos estavam também influenciados por aquela cultura incrédula e por isso apresentaram dificuldade em se render diante do sobrenatural de Deus. Precisavam viver à sombra do Senhor, quando o Senhor cobrou deles a responsabilidade por aquele momento. Eram eles que deveriam ter expelido aquele demônio e não ficarem ineficientes diante da ação do mal. Será que a cultura contemporânea também não tem moldado a fé e o comportamento de muitos cristãos?

11. Ele não pode ser resumido a fórmulas — ‘Por que não pudemos nós expulsá-lo?” (v.28). Eles estavam atônitos diante do fracasso! Essa pergunta ganha o sentido: “Por que a nossa fórmula não funcionou?” Não é que eles não tivessem tentado, porque o texto deixa claro que os discípulos tentaram expelir esse espírito, mas não conseguiram. “Roguei aos teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam” (v. 18). Não tenho dúvidas que eles se valeram dos métodos e fórmulas aprendidas, mas nada aconteceu! O próprio Senhor dissera que os demônios são expulsos não pelo uso de uma técnica ou fórmula, mas pelo poder do Espírito Santo (Mt 12.28). Um cristianismo preso a formulas ou métodos fracassará!

12. Ele é relacional — ‘Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum]” (v.29). Já dissemos que o cristianismo bíblico não se prende a fórmulas, por quê? Porque ele é relacional, isto é, se fundamenta em relacionamentos. A fé cristã é construída pela comunhão com Deus! De nada adianta fórmulas, técnicas, recursos de marketing, se não houver relacionamentos! Deus quer que seus filhos se relacionem com ele e então a vida vitoriosa tão almejada chegará.
GONÇALVES, José. Porção Dobrada, CPAD 2012 pag103-108.


I - ELIAS, O MESSIAS E A TRANSFIGURAÇÃO

I. Transfiguração.

TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

Ver o artigo separado sobre Transformação Segundo a Imagem de Cristo.

1. No grego, metamorphôomai, "transformar", "transfigurar". Esse vocábulo grego é usado por duas vezes acerca da transfiguração do Senhor Jesus (ver Mat 17:2 e Mar. 9:2), e por duas vezes acerca da transformação ocorrida nas vidas dos crentes, por meio das operações divinas (ver Rom. 12:2; 11 Cor. 3:18).

2. A Transfiguração de Jesus no Novo Testamento. Todos os três evangelhos sinópticos relatam o evento da transfiguração de Jesus, no monte (ver Mal. 17:1-8; Mar. 9:2-8; Luc. 9:28-36). Mas Lucas não usa o verbo específico "transfigurar", mas apenas diz que a aparência do Senhor Jesus ficou "diferente". O apóstolo Pedro também se refere ao acontecido (ver 11 Ped. 1: 16-18). E as alusões feitas pelo apóstolo João, à glória de Jesus, talvez reflitam a ocorrência (ver João 1:14; 2: 11 e 17:24).

3. O Lugar da Transfiguração. Há uma tradição que vem desde o século IV d.C., afirmando que o monte da transfiguração é o monte Tabor, da Galileia. No século VI d.C., nada menos de três templos cristãos haviam sido construídos naquele monte, provavelmente, em face dessa tradição. Mas, no século XIX, os eruditos mudaram de opinião, diante do fato de que o cume do monte Tabor, segundo descobriu-se, era ocupado por uma cidadela, na época da transfiguração de Jesus. Não há qualquer evidência de que o Senhor Jesus se afastou para longe da região de Cesaréia de Filipe. Apenas aprendemos em Marcos 9:30, que Ele e seus discípulos "passavam pela Galileia", algum tempo depois da transfiguração. A maioria dos eruditos atualmente acha que devemos pensar no monte Hennom, o único monte cujo pico é perenemente recoberto de gelo, o que poderia corresponder ao "alto monte" referido em Mal. 17:1. No entanto, um estudioso, W. Ewing(ver ISBE, voI. 5 pág. 3006) objeta que o monte da transfiguração deve ter sido na Judéia, onde havia escribas nas proximidades (ver Mar. 9:14). E ele sugere ali o Jebel Jennuque, a mais elevada montanha da própria Palestina, que dominava o norte da Galileia. Mas, ainda outros estudiosos têm procurado espiritualizar esse monte "alto", que Pedro chama de "santo". Todavia, esses estudiosos tendem por negar a historicidade do evento, ou então, a exatidão dos relatos dos evangelhos.

4. O Tempo da Transfiguração. Parece que o tempo da transfiguração foi no começo do outono do ano anterior ao da crucificação. Mateus e Marcos afirmam que isso ocorreu seis dias após a confissão de Pedro. Lucas fala em "cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras", o que talvez inclua os dias terminais, ou então, porque ele também incluiu um dia de subida no monte, e outro de descida. Mas outros comentadores, rejeitando as referências cronológicas, imaginam que a narrativa foi transferida de local, porquanto diria respeito, na realidade, a alguma  aparência mítica ou real de Jesus, após a sua ressurreição. Na verdade, há certos pontos de semelhança entre o Cristo transfigurado e o Cristo glorificado; mas é uma temeridade pensar que os escritores sagrados inventaram uma transfiguração de Jesus. Não há qualquer necessidade de negar o fato da transfiguração, para aqueles que aceitam a descrição neotestamentária de Jesus como o Cristo divino, sobrenatural.

5. Fontes de Informação Esta seção tem paralelos em Mar. 9:2-36, pelo que a sua fonte foi o proto marcos.Ver informação sobre as fontes informativas dos evangelhos na introdução ao comentário no artigo intitulado oProblema Sinôptioo e no artigo sobre Marcos, Evangelho de. Alguns intérpretes têm procurado lançar dúvidas sobre a historicidade deste acontecimento, por crerem que se deve à imaginação dos membros da Igreja primitiva, especialmente criada para ilustrar a divindade de Cristo, ou que histórias similares do Antigo Testamento, especialmente sobre o resplendor do rosto de Moisés, ao receber a lei, foram reescritas e aplicadas a Jesus, como se Ele fosse um novo Moisés. Não obstante, a verdade é que nada soa tão veraz em face daquilo que sabemos de Jesus e de suas experiências místicas, e as descrições que aqui são dadas são típicas dessas experiências.

6. Natureza do Evento e Significados Uma aura de grande esplendor é frequentemente associada às experiências místicas, quer historiadas quer não, nas Escrituras. Mas o acontecimento aqui narrado ultrapassa a experiência comum, porquanto não envolveu  somente a Jesus, mas também a Pedro, a Tiago e a João, os quais, diferentemente de Jesus, não estavam sujeitos a essas experiências. Foi uma experiência de origem divina, uma revelação dada aos apóstolos, sobre a glória do reino futuro que terá Jesus como seu rei. O Senhor Jesus foi visto em sua glória, o homem imortal exaltado, mas também participante na natureza divina (vs.2). Moisés, provavelmente, representou a autoridade judaica da lei. Elias representou certamente os profetas, e juntos foram vistos como representantes da autoridade básica da religião revelada aos judeus. Alguns intérpretes veem nesse acontecimento a existência de muitos símbolos, como o de Moisés, que representaria os que passaram pela experiência da morte e o de Elias, como a figura dos redimidos que serão arrebatados sem ver a morte; os apóstolos são vistos como representantes de Israel no reino futuro. Mas, devido ao fato de que o NT não indica tais lições, é precário exagerar os possíveis símbolos desse acontecimento. O vs. 5 é muito significativo, porque apresenta outro incidente da aprovação direta e divina à pessoa de Jesus e à sua missão.

Outros significados, que apesar de acidentais, também são importantes, têm sido apresentados, como os seguintes:

1. Jesus, vendo claramente que já se aproximava a morte, necessitou de um consolo especial do Pai, da demonstração da aprovação divina em sua vida e obra.  2. Jesus precisou da demonstração do êxito final de sua obra; precisou da prova de que o reino, apesar de rejeitado pelo povo, seria uma realidade futura, de acordo com o elemento de tempo que o Pai determinasse.  3. Os apóstolos também necessitavam desse consolo, não só naquele instante em que estavam ligados a Jesus, mas também mais tarde, após a sua morte, ressurreição e ascensão. O trecho de II Ped. 1:16-18 ilustra o fato de que esse acontecimento insuflou grande segurança e confiança e, realmente, a lembrança da realidade desta experiência fortaleceu e conferiu maior autoridade à mensagem cristã. A experiência demonstrou, como poucas outras, a singularidade e a autoridade de Jesus, confirmando a sua identificação como o Messias prometido e afirmando a sua missão, não somente terrestre, mas também cósmica.

"Os investigadores recentes se têm preocupado mais com o significado, propósito e pano de fundo da narrativa do que com suas origens históricas, porquanto muito têm a dizer-nos acerca do primitivo pensamento cristão. Assim, Herald Riesenfeld traça todos os antigos motivos e alusões em sua obra Jesus Transfigured(Copenhagen: Ejnar Munksgaard, 1947), que contém uma bibliografia completa. Conforme Riesenfeld, a história é fundamentalmente "histórica", pois relata uma visão da entronização de Jesus como Messias e Sumo Sacerdote, que Pedro e outros puderam contemplar. G.H. Boobyer, "St. Mark and the Transfiguration Story", Journal of Theological Studies, XLI, 1940, págs. 119-140, nega que isso tenha qualquer vínculo com a ressurreição. A transfiguração, em vez disso, seria a prefiguração da "parousia", da segunda vinda gloriosa de Cristo, tal como se vê em II Ped. 1:13-18 e no Apocalipse de Pedro (Sherman Johnson, in loc.).

vocábulo grego aqui traduzido por transfiguração, em português é realmente a palavra metamorfose, que significa "mudança de forma". "Morphe" é uma das palavras gregas que significam "forma". Paulo se utilizou do mesmo termo, em Rom. 12:2, ao falar da transformação do homem interior, isto é, a vida interior do crente. A palavra morphe também foi usada para indicar a "forma" do corpo de Jesus após a sua ressurreição (ver Mar. 16: 12). A passagem de II Cor. 3: 18 usa a palavra ao aludir à história do rosto refulgente de Moisés, mas aplica essa transformação a todos os crentes. Em Fil. 2:6, o termo grego morphe se refere ao estado de Jesus antes da encarnação, e também depois, já feito "homem". É evidente que esse vocábulo fala, usualmente, da natureza essencial de alguma coisa ou pessoa. Aqui, a Bíblia diz que "(Jesus) foi transfigurado". Pode ser que a transfiguração tenha envolvido realmente uma verdadeira alteração de natureza ou substância. De fato, esta fala da transformação do homem imortal, que tem vida em si mesmo, a vida não derivada, igual à vida de Deus, que o Pai conferiu a Jesus (como homem), e que Cristo dará aos seus verdadeiros discípulos. Ver as notas no NTI que tratam das implicações destas declarações, em João 5:26 e Rorn. 8:29. O termo "morphe" é usado em relação à essência da natureza, e às vezes em contraste com a palavra "skerna", que geralmente significa a forma externa, sujeita a alterações bruscas. Skema fala de formas acidentais; morphe pode falar da natureza essencial, ou de forma externa.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol.6, Editora HAGNOS. pag.477, 478. 

A exaltação de Jesus, começando com a ressurreição ate a segunda vinda, e prefigurada na transfiguração, registrada em 17. 1-13; especialmente nos vercículos e 1-8. Essa transfiguração serviu ao duplo proposito de:a. preparar o Mediador para enfrentar com coragem sua amarga prova, lembrando-o do constante amor do Pai (17.5) e da gloria que se seguiria ao seu sofrimento (Hb 12.2); e b. confirmar a fé de Pedro, Tiago e Joao – e indiretamente de toda a igreja subsequentemente - na verdade que havia sido revelada a Simão Pedro e confessada por ele, como porta-voz dos Doze (Mt 16.16).
HENDRIKSEN William. Comentário do Novo Testamento Mateus Volume 2. Editora Cultura Cristã. pag.227, 228.


2. Gloria divina.

A transfiguração revelou quatro aspectos da glória de Jesus Cristo o Rei. A glória de sua Pessoa.Tanto quanto sabemos pelos relatos bíblicos, essa foi a única vez que Jesus revelou sua glória de tal forma durante seu ministério aqui na Terra. A palavra traduzida por transfiguração dá origem a nosso termo "metamorfose", que significa uma mudança exterior provinda de uma transformação interior. Quando uma lagarta constrói um casulo e depois sai dedentro dele na forma de uma borboleta, deu-se um processo de metamorfose. A glória de nosso Senhor não refletiu algo exterior, mas sim, irradiou algo interior. Houve uma mudança exterior que veio de dentro de Jesus e fez com que sua glória essencial resplandecesse (Hb 1:3).

Por certo, esse acontecimento serviria para fortalecer a fé dos discípulos, especialmente de Pedro, o qual havia confessado pouco tempo antes que Jesus era o Filho de Deus. Sua confissão de fé não teria sido tão significativa se ele a tivesse feito depois da transfiguração. Pedro creu, confessou sua fé e recebeu confirmação (ver lo 11 :40; Hb 11 :6).

Muitos anos depois, João relembrou este acontecimento quando o Espírito o inspirou a escrever: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" 001 :14). Em seu Evangelho, João enfatiza a divindade de Cristo e a glória de sua pessoa (Jo 2:11; 7:39; 11 :4; 12:23; 13:31, 32; 20:31).

Quando veio à Terra, Jesus Cristo deixou de lado sua glória (Jo 17:5). Por causa de sua obra consumada na cruz, recebeu de volta sua glória, que hoje compartilha conosco (Jo17: 22,24). No entanto, não precisamos esperar pelo céu para participar dessa "glória da transfiguração". Quando nos entregamos a Deus, ele "transfigura" nossa mente (Rm 12:1, 2). Ao nos sujeitarmos ao Espírito de Deus, ele nos transforma (transfigura) "de glória em glória" (2 Co 3: 18). Ao examinarmos a Palavra de Deus, vemos o Filho de Deus e somos transfigurados pelo Espírito de Deus na glória de Deus.

A glória de seu reino. No encerramento de seu sermão sobre tomar a cruz, Jesus prometeu que alguns de seus discípulos veriam "o Filho do Homem no seu reino" (Mt 16:28). Selecionou Pedro, Tiago e João para testemunhar esse acontecimento. Esses três amigos e sócios (Lc 5:10) haviam acompanhado Jesus à casa de Jairo (Lc 8:51) e, posteriormente, estariam com ele no jardim do Getsêmani, antes da crucificação (ver Mt 26:37).

G. Campbell Morgan chama a atenção para o fato de que, nessas três ocasiões, o assunto principal foi amorte. Jesus estava ensinando a estes três homens que ele é vitorioso sobre a morte (ressuscitou a filha de Jairo) e se entregou à morte (no jardim). A transfiguração ensinou que ele foi glorificado na morte. A presença de Moisés e de Elias foi significativa, pois Moisés representava a lei e Elias os Profetas. Toda a lei e os Profetas apontam para Cristo e se cumprem em Cristo (Lc 24:27; Hb 1:1). Nenhuma palavra do Antigo Testamento deixará de ser cumprida. O reino prometido será estabelecido (lc 1:32, 33, 68-77). Assim como esses três discípulos viram Jesus glorificado na Terra, também o povo de Deus o veria em seu reino glorioso na Terra (Ap 19:11 - 20:6). Pedro aprendeu essa lição e nunca mais a esqueceu. "Nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade [...] Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética" (ver 2 Pe 1:12ss). A experiência de Pedro no monte apenas fortaleceu sua fé nas profecias do Antigo Testamento. O mais importante não é testemunhar grandes feitos e prodígios, mas ouvir a Palavra de Deus. "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi" (Mt 17:5). Todos os que são nascidos de novo pertencem ao reino de Deus 00 3:3-5). Trata-se de um reino espiritual, separado das coisas materiais deste mundo (Rm 14:17). Mas um dia, quando Jesus voltar, haverá um reino glorioso por mil anos (Ap 20: 1-7), com Jesus Cristo governando como Rei. Os que crerem nele reinarão com ele na Terra (Ap 5:10).

A glória de sua cruz. Os discípulos precisavam aprender que o sofrimento e a glória andam juntos. Pedro não queria que Jesus fosse a Jerusalém para morrer, de modo que Jesus teve de ensinar-lhe que, sem seu sofrimento e morte, não haveria glória. Sem dúvida, Pedro aprendeu a lição, pois em sua primeira epístola enfatiza repetidamente o sofrimento e a glória (1 Pe 1:6-8,11; 4:12 5: 11 ). Moisés e Elias conversaram com Jesus Seu sofrimento e morte não seriam um acidente, mas uma conquista. Pedro usa a palavra partida ao descrever sua morte iminente (2 Pe 1:15). Para o cristão, a morte não é uma estrada de mão única para o esquecimento. Antes, é uma partida, um êxodo, a libertação da escravidão desta vida para a gloriosa liberdade da vida no céu. Pelo fato de Cristo ter morrido e pago o preço, pudemos ser redimidos: comprados e libertados. Os dois discípulos de Emaús esperavam que Jesus libertasse a nação da escravidão romana (Lc 24:21). Jesus não morreu para oferecer liberdade política, mas sim para conceder liberdade espiritual: fomos libertos do sistema do mundo (Gil :4), de uma vida fútil e sem propósito (1 Pe 1:18) e da iniquidade (Tt 2:14). Nossa redenção em Cristo é decisiva e definitiva.

A glória de sua submissão. Pedro não conseguia entender por que o Filho de Deus se sujeitaria a homens perversos e sofreria voluntariamente. Deus usou a transfiguração para ensinar a Pedro que Jesus é glorificado quando negamos a nós mesmos, tomamos nossa cruz e o seguimos. A filosofia do mundo é: "salve sua vida!", mas a filosofia cristã é: "entregue sua vida a Deus!" Ao se colocar diante deles em glória, Jesus provou aos três discípulos que a entrega sempre conduz à glória. Primeiro o sofrimento, depois a glória; primeiro a cruz, depois a coroa. Cada um dos três discípulos viveria essa importante verdade. Tiago seria o primeiro dos discípulos a morrer (At 12:1, 2). João seria o último, mas enfrentaria perseguições intensas na ilha de Patmos (Ap 1:9). Pedro passaria por muitas aflições e, no final, daria sua vida por Cristo 00 21 :15-19; 2 Pe 1:12). Pedro opôs-se à cruz quando Jesus mencionou sua morte pela primeira vez (Mt 16:22ss). No jardim, usou sua espada para defender o Mestre 00 18:10). Até mesmo no monte da transfiguração, Pedro tentou dizer a Jesus o que fazer, pois queria construir ali três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias, para que todos permanecessem ali e desfrutassem a glória! Mas o Pai interrompeu a Pedro e deu permite que seu Filho amado seja colocado no mesmo nível que Moisés e Elias. A ninguém [...] senão Jesus", esse é o padrão de Deus (Mt 17:8). Enquanto descia o monte com seus três discípulos, Jesus advertiu-os a não revelar o que haviam visto, nem mesmo aos outros discípulos. Mas os três homens ainda estavam perplexos. Haviam aprendido que Elias viria primeiro em preparação para a fundação do reino. A presença de Elias no monte seria o cumprimento dessa profecia? (MI 4:5, 6).

Jesus responde a essa pergunta de duas maneiras. Sim, Elias viria conforme profetizado em Malaquias 4:5, 6, mas, em termos espirituais, Elias já havia vindo na pessoa de João Batista (ver Mt 11:10-15; Lc 1:17). A nação permitiu que João fosse executado e pediria que Jesus fosse morto. Apesar de tudo o que os líderes perversos fariam, Deus realizaria seu plano. Quando se dará a vinda de Elias para restaurar todas as coisas? Alguns acreditam que Elias virá como uma das "duas testemunhas", cujo ministério é descrito em Apocalipse 11. Outros acreditam que a profecia foi cumprida no ministério de João Batista e, dessa forma, Elias não virá outra vez.
WARREN. W. Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento Volume I.EDITORA Central Gospel.pag.78-80.



II - ELIAS, O MESSIAS E A RESTAURAÇÃO

1. Tipologia.

TIPOS, TIPOLOGIA

Ver Tipos, Tipologia no Índice onde uma lista extensiva é apresentada.

Esboço:

L Definição e Caracterização Geral

lI. Termos Empregados

Ill. Inspiração Dessa Forma de Interpretação

IV. Legitimidade da Tipologia e Oposição à Mesma

V. Características dos Tipos

VI. Como Evitar Exageros

I. Definição e Caracterização Geral A tipologia é uma técnica, associada bem de perto à alegoria, mediante a qual pessoas, eventos, instituições ou objetos de qualquer espécie passam a simbolizar ou ilustrar a pessoa de Jesus Cristo, ou então aspectos da fé, da doutrina, das práticas, das instituições cristãs, etc. Paulo e o autor da epístola aos Hebreus muito tiraram proveito do Antigo Testamento, visto que eles acreditavam que o Antigo Testamento prefigurava (por ato de Deus) o Novo Testamento, como também Cristo foi o cumprimento de inúmeros tipos ou símbolos do Antigo Testamento. Um tipo assemelha-se a uma alegoria, mas, visto que tem melhores bases bíblicas, tem ocupado um sucesso maior, retendo um importante papel dentro da interpretação cristã. Ver sobre Alegoria Interpretação Alegórica. Há algumas alegorias nas páginas da Bíblia, mas o Novo Testamento exibe um número muito maior de tipos do que de alegorias.

II. Termos Empregados

São todos vocábulos gregos: Túpos, "tipo" (ver Rom. 5:14;1 Cor. 10:6,11). Skiâ, "sombra" (ver Col. 2:17; Heb. 8:5; 10:

1). Hupôdetgma, "cópia" (ver Heb. 8:5; 9:23). Semeion, "sinal" (ver Mal. 12:28). Parabolé, "figura" (ver Heb. 9:9; 11:19). Antitupos, "antitipo" (ver Heb. 9:24; 1 Ped. 3:21).Todos esses vocábulos envolvem o uso de tipos para efeitos didáticos, e as passagens ilustrativas acima oferecidas provêem exemplos dessa atividade no Novo Testamento. Esses tipos provêem sombras ou vislumbres de verdades que são melhor desenvolvidas e expostas no Novo Testamento, em contraste com o Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento é usado como uma espécie de tesouro de onde são extraidas todas as formas de antecipações de Cristo, de sua Igreja ou de sua doutrina, mediante o uso de pessoas ou coisas que são usadas simbolicamente. Os tipos muito enriquecem o estudo das Escrituras, ainda que possamos questionar a validade de alguns deles, porquanto pode haver exageros de interpretação. Na primeira instituição teológica na qual estudei. houve um curso de um semestre que só tratou do assunto da tipologia, o que mostra como esse assunto é considerado importante em alguns círculos.

III. Inspiração Dessa Forma de Interpretação

Os rabinos amavam símbolos, tipos, alegorias e parábolas. A tipologia tem um pano de fundo judaico, e era extremamente popular entre os rabinos. O material escrito dos Manuscritos do Mar Morto (vide) provê ilustrações tanto da interpretação alegórica como da interpretação tipo lógica. Foi apenas natural que os autores do Novo Testamento (quase todos eles judeus, acostumados com o estudo do Antigo Testamento) tivessem visto tipos claros no Antigo Testamento. Assim, Cristo tomou-se o Segundo (ou último) Adão (Rom. 12); a primeira páscoa ilustrava Cristo como nossa Páscoa e a eucaristia (1 Cor. 5:6-8); o cordeiro pascal antecipava o Cordeiro de Deus (João 1:29); Israel no deserto antecipava certos aspectos da vida cristã (I Cor. 10: 1-11). Acresça-se a isso que a epístola aos Hebreus é, virtualmente, um estudo de tipos bíblicos, do princípio ao fim. Não se pode duvidar que tipos enriqueceram a teologia cristã. Porém, algumas vezes,  um tipo é obtido ignorando-se o contexto, ou então através de uma fértil e exagerada imaginação. Por isso mesmo, tipos podem ser abusados, tornando-se fantasias subjetivas.

IV. Legitimidade da Tipologia e Oposição à Mesma.

A legitimidade do uso de tipos alicerça-se, essencialmente, sobre o fato de que os autores do Novo Testamento usaram livremente esse método. A inspiração das Escrituras então insiste que esse uso é inspirado pelo Espírito de Deus. Do ponto de vista histórico, salienta-se que o cristianismo nasceu dentro do judaísmo, e que o Novo Testamento foi o desdobramento natural e necessário do Antigo Testamento. As íntimas correlações entre os dois Testamentos exigiam que o Antigo se tornasse tipo do Novo Testamento. Além disso, a tradição profética tem um papel a desempenhar aí, pois há predições sobre Cristo em muitas passagens, pelo que era inevitável que o documento de predições também contivesse tipos da Figura sobre a qual predizia. Ver sobre Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus.

Oposição. Esta procede, essencialmente, de três setores:

1. Os rabinos objetavam ao uso tipológico de seus Livros Sagrados, visto que rejeitavam a Pessoa e à Fé religiosa que, alegadamente, estavam sendo tipificadas. Também objetavam à cristianização do Antigo Testamento, o que eles consideravam uma perversão, e não um uso legítimo.

2. Os teólogos liberais objetam aos excessos e abusos a que os tipos são sujeitados; e os mais radicais entre eles objetam à própria prática, como uma cristianização do Antigo Testamento que vai além do que a razão permite. Assim, a crítica da Bíblia (que teve início no século XIX, na Alemanha), nunca deu muito valor aos tipos, e acabou desaparecendo ali.

3. Os céticos concordam com os rabinos e com os estudiosos liberais mais radicais, supondo que a prática da cristianização do Antigo Testamento envolve uma falsidade, repleta de fantasias e exageros piedosos.

V. Características dos Tipos

1. Eles estão alicerçados na história e na revelação sagradas (Mal. 12:40).

2. São proféticos (João 3: 14; Gên. 14, comparado com Heb.7).

3. Fazem parte integral da história sagrada e da doutrina cristã, e não pensamentos posteriores, inventados por rabinos e cabalistas (ver I Cor. 10: 1-11).

4. São cristocêntricos (Luc, 24:24,44; Atos 3:24 ss).

5. São excelentes para instrução e edificação. Cada tipo provê uma espécie de janela que permite a entrada de luz sobre o assunto ventilado. O livro aos Hebreus é o supremo exemplo neotes-tamentário de como funcionam os tipos bíblicos.

VI. Como Evitar Exageros

Alguns intérpretes cristãos têm pensado ver tantos tipos no Antigo Testamento que perdem de vista o valor histórico e religioso do Livro Sagrado. De maneira geral, encontrarno-nos em terreno firme quando aceitamos aqueles tipos que nos são apresentados no próprio Novo Testamento, ou quando suspeitamos daqueles que não contam com tal confirmação. Entretanto, alguns intérpretes exageram, ao verem muitas coisas nesses tipos. Alguns intérpretes veem algum simbolismo em cada peça do mobiliário do tabernáculo, e até mesmo nos materiais empregados na confecção dos mesmos, como ilustrações de algo sobre a pessoa e a obra de Cristo. Mas se o relato acerca de Jonas certamente ilustra a ressurreição de Cristo, o retorno de Jonas à sua terra natal não ilustra, necessariamente, a restauração de Israel aos seus territórios, conforme alguns têm dito. Detalhamentos demasiados devem ser evitados, portanto. Alguns tipologistas têm-se atrapalhado com pormenores sem base, encontrando tipos dentro de tipos. Devemos procurar pela verdade essencial, não tentando escrever um livro com base apenas sobre um tipo, que é apenas uma ilustração. (B C E 10)

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol.6, Editora HAGNOS. pag.437-439.



3. Moisés e Elias, os representantes ilustres, segundo o pensamento judeu, da Lei e dos Profetas, apareceram falando com ele sobre os próximos acontecimentos em Jerusalém (Lc. 9:31). Essa conversação mostrou aos discípulos que a morte do Messias não era incompatível com o V.T. Considerando a transfiguração como uma pré-estreia do reino messiânico (16:28), alguns têm visto em Moisés (que já morrera) e Elias (que passara desta vida para a outra sem experimentar a morte) os representantes dos dois grupos que Cristo trará com ele para estabelecer o seu reino: santos mortos ressuscitados e santos vivos transladados. Do mesmo modo os três discípulos são considerados representantes dos homens vivos na terra por ocasião do Segundo Advento (L. S. Chafer, Systematic Theology, V. 85-94 ; G. N. H. Peters. Theocratic Kingdom, II, 559-561).
MOODY. Comentário Bíblico. Mateus, pag.84, 85.



17:3: E eis que lhes apareceram Moises e Elias, falando com Ele.

Luc. 9:31 apresenta a natureza da conversa: Os quais apareceram em gloria e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir cm Jerusalém. A expressão no grego, traduzida por e eis, serve de elemento comum que introduz uma característica ou elemento principal do acontecimento narrado. Elemento notável foi a aparição de duas personagens famosas do V.T. Alguns interpretes não aceitam a aparição objetiva desses homens, mas acham que o acontecimento foi um tipo de visão que dispensava a presença literal dos mesmos. Mas. a maior parte dos interpretes compreende corretamente que eles realmente apareceram, e não ha razão alguma para que se negue a possibilidade de tal aparição. Isso não tem sido raro na historia do homem, e as Escrituras afirmam a sobrevivência e a existência posterior daqueles que já morreram. No caso de Elias, que não passou pela morte, talvez tenhamos razão cm pensar que ele passou pela transformação do corpo terrestre para o corpo celeste, o que sucedera aos corpos dos verdadeiros discípulos quando do arrebatamento da igreja. Ver nota detalhada sobre a questão, cm I Tes. 4:15. Não devemos negar que a experiência não tenha sido uma visão. pois e claro que assim foi, mas a palavra visão não equivale afantasia e não implica em que tal acontecimento não tenha incluído a presença autentica de Moises e Elias, tem havido muita discussão sobre como os discípulos reconheceram os personagens como Moises e Elias. Naturalmente que a visão incluiu o reconhecimento desses personagens; e ideias estranhas, como as de Eut. y.1g.. de que tinham lido descrições daqueles homens em antigos livros hebreus. claramente são suposições errôneas. A experiência mística, especialmente do tipo acompanhado por alguma visão, traz consigo mesma a sua interpretação, o sentido e as razoes da visão. Naquela oportunidade os discípulos não compreendiam ainda tudo isso, mas tal entendimento veio mais tarde. Pelo menos compreenderam que a visão salientava a gloria de Jesus como Messias: e provavelmente também entenderam que o acontecido foi motivo de consolo c revigoramento. tanto para Jesus (que breve haveria de enfrentar a cruz) como para eles mesmos, especialmente por que servia de fator de fortalecimento da fe em uma ocasião difícil. Mais tarde, a ocorrência serviu para fortalecer a vida crista em todas os seus aspectos, por haver demonstrado tão claramente a gloria, o poder c a elevada posição de Jesus. como o rei do reino eterno, depois da parousia.

Ha diversas lições e observações justas sobre a aparição desses dois homens. Moises e Elias,

I MOISES representa, como nenhum outro, a autoridade da lei, e geralmente serve de símbolo do judaísmo em geral. Diversas tradições associavam Moises a vinda do Messias. Jesus, em sua vida e ministério, era qual outro Moises, posto que deu uma nova lei. organizou uma nova congregação e estabeleceu uma nova ordem de coisas. Moises, no pensamento judaico, estava associado a gloria do reino de Deus. Jesus incorporou essa gloria em si mesmo, conforme ficou demonstrado nesta mio. He mesmo disse: Porque se de fato cresci em Moises, também crereis em mim: porquanto ele escreveu a meu respeito. Porem, nesse acontecimento. Jesus não dependeu de qualquer documento escrito, como o V.T.. mas do próprio testemunho pessoal de Moises. Esse testemunho infundiu coragem cm Jesus. cm uma hora difícil, pois agora ele já sabia que o reino literal não seria estabelecido então a face da terra, e que ele mesmo, apesar de ser rei. seria crucificado. Os discípulos, que seriam as testemunhas principais do cristianismo, também precisavam, naquele momento, daquela mensagem de consolo e segurança.

2. ELJAS representa os profetas, por ter sido um dos maiores profetas. Jesus recebeu, portanto, o testemunho dos profetas, porque, realmente, todos eles profetizaram a seu respeito. Porem, tal como no caso de Moises. Jesus recebeu o testemunho direto de Elias, o que serviu de confirmação da sua missão como o Messias de Israel. O profeta Elias também era associado a esperança messiânica, e muitos esperavam a sua visita pessoal antes da manifestação do Messias. O vs 10 deste mesmo capitulo ilustra essa ideia. Aqui. pois, Elias talvez tenha aparecido como cumprimento parcial da profecia, ou, pelo menos. como demonstração da ligação de sua pessoa com 0 Messias.

3. JUNTOS. Moises c Elias mostraram a aprovação do Pai a pessoa e a missão de Jesus; e também demonstraram que Jesus cara o Messias de Israel, que se baseava na religião e esperança messiânica dos judeus, não sendo ele o fundador de uma religião inteiramente separada da fé de Israel. O aparecimento de Moises e Elias testificou que suas obras se completavam em Cristo.

4. Ha diversas outras interpretações: Elias representa os redimidos arrebatados (da igreja), porquanto não passou pela morte. Moises representa os redimidos que experimentam a morte física. E difícil afirmar o simbolismo dessas figuras, mas os fatos mencionados nas posições um e três (acima) parecem ser razoáveis, indicando as lições espirituais deste vs.

5. Certamente, a visão antecipa a parousia e a gloria do reino eterno.

A passagem de Luc. 9:31. que apresenta a ideia geral da conversa havida, ilustra o fato indicando que a aparição daquelas personagens tinham o proposito de consolar e orientar a Jesus, porquanto prestes enfrentaria a morte, e o fracasso de sua tentativa de estabelecer o reino literal era. ao mesmo tempo, sua grande oportunidade de fazer expiação pelos pecados do mundo inteiro. Jesus enfrentava a hora critica de seu ministério, e nessa hora a associação com Moises c Elias ajudou-o a cumprir com êxito essa fase de sua missão.

A palavra aqui traduzida por partida (Luc. 9:31) e, literalmente, êxodo,e fala não só de sua morte, mas também de sua ascensão aos céus, e. realmente, de sua partida da terra, do fim de sua missão na terra. O mesmo vocábulo e usado com referencia a morte de Pedro, cm II Ped. 1:15. Moises foi 0 líder do grandeêxodo do povo de Deus, quando da saída do Egito. Jesus, mediante o seu êxodo, estabeleceria o alicerce da esperança para todo o povo de Deus sair deste mundo a fim de ir habitar no mundo além. Ver Heb. 3:18 e 4:8.

Alguns interpretes sugerem a identificação de Moises e Elias com as duas testemunhas do Apo. Ver a discussão sobre esse assunto em Apo. 11:3-12. 

5 Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu; e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.

«Falava ele ainda...·. Se outro acontecimento não tivesse interrompido a Pedro, certamente teria continuado a falar, como era de seu costume. Esta visão tem quatro elementos principais: 1. A transfiguração da aparência e de toda a pessoa de Jesus (vs. 2). 2. A aparição de Moises c Elias (vs. 3). 3. A aparição da nuvem, que provavelmente não era uma nuvem física ou comum, mas uma manifestação de luz extraordinária, pois o texto diz nuvem luminosa. Essa nuvem os envolveu como se fora um nevoeiro.

Provavelmente o texto fala de um tipo de energia celestial. Sabemos que, nas experiências místicas, a presença dos fenômenos altera a atmosfera mental, c aqueles que não estão espiritualmente preparados para tais manifestações, são assaltados pelo medo. Para os mortais, sob condições comuns, habitar na atmosfera divina e experiência temível. Não temos muito conhecimento sobre tais manifestações, mas sabemos que elas acompanham as experiências místicas e podem produzir profunda alegria, êxtase, ou resultados opostos, como medo profundo. 4. A voz vinda dos céus.

Essa nuvem luminosa c celestial era justamente o sinal dos céus que os fariseus e saduceus quiseram ver, mas que lhes foi negado, ao passo que os discípulos, embora fracos c sem grande compreensão sobre a missão de Jesus e os seus propósitos, mas que eram honestos de coração e queriam receber o conhecimento da verdade, embora não tivessem solicitado tal sinal, receberam-no livremente da parte de Deus. Esse sinal, como também os demais acompanhamentos da visão, tinham 0 proposito de confirmar a missão messiânica de Jesus ante os apóstolos, ensinando-lhes algo sobre a gloria dele. e. posteriormente, teve o efeito de confirmar a mensagem de cristianismo perante eles.

Por diversas vezes houve nuvens relacionadas ao ministério de Jesus: 1. No seu batismo (Mat. 3:17). 2. Mais tarde. na ascensão (Atos 1:9). 3. Quando de seu segundo advento, também ha a promessa de que haverá uma nuvem (Mat. 24:30).

ESSE tipo de manifestação era sempre associado . presença de Deus, no V.T. Os judeus intitulavam essa manifestação de shechinah, ou gloria, que no Talmude significa praesentia Dei, a presença de Deus. A palavra se deriva da raiz que significa *habitar. Deus deu ao povo de Israel uma nuvem para dirigi-lo no deserto, símbolo da presença de Deus que guia (ver Ex. 13:21). Também lemos que, as vezes, essa manifestação enchia a casa do Senhor (I Reis 8:10). Posteriormente, essa manifestação passou a ser geralmente reputada uma prova da presença de Deus, e a própria palavra shechinah passou a ser usada para indicar a presença de Deus. Em Is. 4:5 temos a indicação de que a presença da gloria de Deus separa o mal do bem.

A gloria da presença de Deus serviu de símbolo do resplendor da Nova Jerusalém (Apo. 21:23). Por meio dessas observações podemos ver a magnitude do sinal dos céus que foi concedido aos apóstolos, e, nessas circunstancias, ate ao próprio Jesus.

...uma voz que dizia...» Os discípulos não precisavam erguer tabernáculos terrestres para abrigar a presença de Moises e Elias. Deus manifestou a sua própria presença sem precisar de qualquer edifício material, e demonstrou que a sua mensagem estava presente entre os homens, na pessoa de seu Filho. O reino literal ainda se demoraria, mas todos os benefícios desse reino poderiam ser usufruídos pelo crente, imediatamente. A voz transmitiu a mesma mensagem ja notada cm Mt. 3:17, quando do batismo de Jesus.

Amado·, neste caso, não significa o mais amado (superlativo), nem o único amado, mas amado ״ cm sentido especial, particular. Conforme sucedeu quando do batismo, aqui também temos a confirmação da aprovação divina a missão messiânica de Jesus e a sua pessoa, de maneira geral. Nessa altura de seu ministério. Jesus precisava dessa confirmação, porquanto enfrentava dura oposição da parte das autoridades religiosas, a possibilidade de morrer as suas mãos, e o fracasso no estabelecimento do reino literal a face da terra. Mas—a aprovação divina—veio demonstrar que, a despeito desses fatos que indicavam um aparente fracasso na missão messiânica de Jesus. a sua vida e sua verdadeira missão messiânica, segundo deveriam ser entendidas cm conexão com seu primeiro advento, não tinham falhado cm seus propósitos. Tudo estava correndo de acordo com o plano de Deus. O homem comum não teria percebido isso, nas circunstancias do momento. Por isso os discípulos também precisavam dessa confirmação; e o valor da visão não se perdeu, porque mais tarde lembraram-se desse acontecimento c das lições dai derivadas, e então puderam compreender o quadro inteiro. O cristianismo começou, portanto, com base cm uma fé firme. De certa maneira o cristianismo foi uma extensão do judaísmo; porem, dotado de mensagem própria, de escopo universal, cm que Cristo ocupa o centro.

Em diversas outros passagens nota-se a voz dos céus para transmitir algum recado de Deus, como Luc. 2:14; Mat. 3:17; Marc. 1:11; Luc. 3:22; Joao 12:28; II Ped. 1:17 e Joao 1:33.

Ver notas detalhadas sobre o Filho do homem, em Marc. 2:7 c Mat. 8:20; sobre o Filho de Deus, em Marc. 1:1; sobre a humanidade de Cristo, cm Fil. 2:7, e sobre a divindade de Cristo, em Heb. 1:3.

...a ele ouvi*. Esse imperativo subentende a singularidade do cristianismo. Por intermédio de Jesus. o Cristo, a mensagem de Deus veio a terra. Os homens, se quiserem aprender alguma coisa sobre a vontade de Deus para com os homens, são forcados a dar atenção a personalidade de Jesus. A aprovação de Deus habita nele. Sua pessoa constitui a mensagem distinta de Deus. Os discípulos alimentavam algumas ideias equivocadas sobre o caráter do ministério de Jesus. Pensavam que ainda obteriam altas posições no reino literal. Não tinham visão clara sobre a missão de Cristo. Era necessário, portanto, que prestassem mais atenção a ele. Observemos quão notáveis foram as circunstancias dessa visão. Moises e Elias se retiraram, c Jesus ficou só. Essa visão ensina que a mensagem do V.T. e do judaísmo em geral já tinha tido cumprimento na pessoa de Jesus. A passagem de Heb. 1:1.2 contem a mesma mensagem: Havendo Deus. outrora. falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais. pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o universo. Ver notas nessa referencia. Por conseguinte, o mundo inteiro, c não apenas aqueles três discípulos, devem dar grande atenção ao Cristo. Ver notas detalhadas sobre a singularidade do cristianismo, cm Gal. 1:8.9.

Os discípulos, ou pelo menos Pedro, quiseram deter a Moises e Elias; mas a grande mensagem de Deus eouvi o cristo. Temos aqui o cumprimento da profecia de Deut. 18:15: O Senhor teu Deus te despertara um profeta do meio de ti. de teus irmãos, semelhante a mim: a ele ouviras.

Além dos demais benefícios da visão, que já foram mencionados, e claro que ela teve o efeito de fortalecer a fé dos discípulos na ressurreição, na transformação do povo de Deus. na sobrevivência da alma apos a morte física, na realidade do mundo do espirito, e, de maneira geral, nas realidades da vida espiritual e do mundo vindouro.

A aprovação da missão messiânica e cósmica de Jesus: O Pai aprovou a missão de Jesus. A visão demonstrou Isto é antecipou sua parousia e a gloria eterna de Cristo como Rei e Sumo Sacerdote.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. VOL 1. Editora HAGNOS.  pag.453, 454.



2. Escatologia.

ESCATOLOGIA - [Do gr. escathos. ultimas coisas + logia, discurso racional! Estudo sistemático e logico das doutrinas concernentes as ultimas coisas. Incompreendida como um dos capítulos da dogmática crista, a escatologia tem por objeto os seguintes temas: Estado Intermediário, Arrebatamento da Igreja, Grande Tribulação, Milênio, Julgamento Final e o Estado Perfeito Eterno.
ANDRADE Claudionor Correia de, Dicionário de Escatologia Bíblica. Editora CPAD. pag.61, 62.

5. O profeta Elias. O pensamento é paralelo ao de 3:1. Antes do Dia do Senhor um mensageiro enviado dos céus prepararia o caminho. O paralelismo sozinho garante a identificação de Elias com João Batista. Contudo, os Evangelhos também tornam claro que este "profeta" não seria o próprio Elias, o tesbita, mas alguém com o seu espírito e o seu poder (Mt. 11:14; 17:13; Mc. 9:11-13; Lc. 1:17).

6. Ele converterá o coração dos pais. João Batista o fada (Lc. 1:16, 17). Através dele, os homens seriam unidos pela fé – ao arrependimento e conversão e alegre obediência à lei de Deus. A unidade de coração a ser operada por João através do Espírito seria como um solo cultivado, o qual, com a vinda de Cristo, produziria frutos a cem por um. Para que eu não venha e fira a terra com maldição. As palavras se relacionara coma exortação a guardar a lei de Moisés e ao ministério de João Batista. Quando o Senhor vierem juízo, a habitação de um povo que transgrediu a aliança, inevitavelmente ficaria sob o juízo da destruição. Um ministério profético no espírito e no poder poderia produzir um reavivamento e assim desviar a plenitude do juízo para que os corações pudessem aceitar o Rei; e o juízo final do Dia da Ira pudesse ser adiada até que o Senhor do Templo completasse a lista dos Seus eleitos. Isto realmente aconteceu. "Elias" veio e preparou um povo para o Senhor, e o Senhor Jesus veio ao seu templo. Assim, embora o V.T, termine com uma maldição condicional, o N.T. termina com uma promessa incondicional de Cristo aos Seus: "Certamente venho sem demora", junto com a resposta daqueles que são o seu "tesouro particular": "Vem, Senhor Jesus".

MOODY. Comentário Bíblico. Malaquias. pag.16.



III - ELIAS, O MESSIAS E A REJEIÇÃO

1. O Messias esperado. 

17.10-12 Com base no texto em Malaquias 4.5,6. os mestres da lei do AT acreditavam que Elias deveria aparecer antes da chegada do Messias. Jesus se referia a Joao Batista e não ao profeta Elias. Joao Batista havia assumido o papel profético de Hias, confrontando corajosamente o pecado e conduzindo o povo a Deus. Malaquias havia profetizado que um dia um profeta como Elias haveria de manifestar-se (Ml 4 .5).
APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo. Editora CPAD. pag.1254.



IV. Ministério e Mensagem de João Batista

l. O Precursor de Cristo. A vida de João Batista visava a preencher um propósito todo especial, ou seja, o de ser o precursor do Messias. Tal como se dá no caso do próprio Senhor Jesus, pouco se sabe acerca do período de preparação de João Batista. João Batista deu inicio ao seu ministério público poucos meses antes do Senhor Jesus iniciar seu próprio ministério. Tal como se deu com o Filho de Deus, João Batista dispunha de curtíssimo prazo para cumprir o seu ministério. Josefo afiança que João Batista era pessoa dotada de grande magnetismo pessoal e força de atração. A vida dele foi como Um brilhante meteoro que apareceu subitamente coriscou durante um breve período, e desapareceu. Alguns chegaram a pensar que ele seria o Messias prometido, e o primeiro capítulo do evangelho de João cuida em mostrar que essa opinião estava equivocada, porquanto João Batista mesmo nunca fizera tal reivindicação. Todavia, a vida de João Batista foi de tal modo poderosa que outros identificaram-no com Elias. E, em certo sentido, estavam com a razão. Foi o próprio Senhor Jesus quem declarou: «E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir» (Mat. 11:14). Ver a seção V quanto a esse particular.

2. João Batista Foi uma Figura Profética. Ele se assemelhava aos profetas do Antigo Testamento, sobretudo com Elias (ver Mat. 5:4 com 11 Reis 1:8 e Zac. 13:4). Os autores do Novo Testamento ensinaram que ele cumpriu a profecia de Isa. 40:3 (ver Mat. 3:3; 17:10-12; ver também Mal. 3:1 e 4:5).

Como um homem do destino, João Batista coube dentro dos tempos do cumprimento de promessas messiânicas e, durante um tempo breve mas crucial realizou o seu ministério terreno. Embora fosse grande, do ponto de vista espiritual, é deveras significativo que Jesus tenha afirmado que o menor no Reino de Deus será maior do que ele (Mat. 11:11). Isso nos revela algo sobre a grandiosidade espiritual que o Reino de Deus haverá de trazer.

3. Um Profeta Asceta. João pode ter vivido ou não sob os votos do nazireado (vide). Seja como for, ele vivia de modo extremamente ascético, vestido, como Elias, com pelos de camelo e comendo gafanhotos e mel silvestre, e falando acerca de acontecimentos apocalípticos e sobre a necessidade dos homens se arrependerem. Tudo, em João Batista, fazia lembrar Elias. e as multidões vinham ouvi-lo. 4. Retirada e Reforma. Embora, a exemplo dos essênios, João Batista se tivesse retirado do convívio social, de forma alguma ele se distanciou da sociedade de seus dias. Sua missão consistia em anunciar as condições, àquela sociedade, mediante as quais os homens de então deveriam acolher o Messias e o seu reino. O Batista engolfou Samaria em seu ministério (João 3:23). Se é que João Batista começou entre os essênios (um ponto muito disputado), então, por certo, ele não se limitou a essa «denominação», visto que a sua mensagem profética era universal, e ele não pregava a uma claque fechada, conforme faziam os essênios.

5. O Messias Anunciado por João Batista. O Novo Testamento deixa claro que João Batista esperava que o Messias estabelecesse o seu reino, pela força, se necessário, e que isso constituiria um acontecimento apocalíptico. De fato, João referia-se a esse advento com termos idênticos àqueles em que os pregadores modernos aludem ao Segundo Advento de Cristo. O Novo Testamento não tenta esconder que o Batista, em certa medida, ficou desapontado diante do modo como Jesus se apresentou publicamente. Jesus não reuniu algum exército, nem se mostrou militante. Ao que parecia, não foi ao menos capaz de proteger o seu homem-chave, ou seja, ao próprio João Batista. Os adversários de Jesus pareciam estar ganhando todas as vitórias. Verdadeiramente, do ângulo de João, as coisas não estavam avançando nada bem. Foi por essa razão que ele enviou mensageiros a Jesus, para que indagassem se ele era, meramente, o Messias, Aquele pelo qual ele, João Batista estava esperando. Ver Mat. f 1:2 ss . João ouvia falar sobre os grandes prodígios de Jesus; mas ali estava ele mesmo, no cárcere. Como poderia ser isso?

V Elias Redivivo

Era doutrina comum entre os judeus do começo 4;10 cristianismo que grandes personagens proféticas do Antigo Testamento, teriam mais de uma missão espiritual terrena. Muitos rabinos pensavam que Jeremias fosse a reencarnação de Moisés. E eles esperavam que Elias voltasse a viver como o precursor do Messias. E do próprio Senhor Jesus chegaram a pensar que ele fosse Jeremias ou algum dos antigos profetas. Ver Mat. 16:14. E os discípulos de Jesus tinham consciência da tradição, promovida pelos fariseus, de que Elias deveria retomar à vida, antes da carreira do Messias, envolvendo-se no drama de sua aparição (Mat. 17:10ss). Jesus, chegado o momento certo, ensinou que Elias já viera a este mundo, na pessoa de João Batista. Alguns intérpretes creem que João Batista foi uma autêntica reencarnação de Elias; mas outros creem que o Batista cumpriu o espirito daquela profecia, mas que ele não era o próprio Elias. João Batista declarou que ele mesmo não era Elias (João 1:21). Porém, aqueles que acreditam que João Batista era. realmente, a reencarnação de Elias, salientam que a pessoa reencarnada (com algumas notáveis exceções) usualmente não tem consciência de sua anterior identidade (ou identidades). Eu mesmo não penso que podemos eliminar essa possibilidade sobre bases dogmáticas. Pois o próprio Novo Testamento ensina casos especiais de. reencarnação, com vistas a missões terrenas especiais. As duas testemunhas do Apocalipse (cap, 11) aparecem como quem já tinha outras histórias terrenas. – O anticristo, segundo se lê em Apo. 17:8,11, haverá de subir do hades a fim de cumprir ainda uma outra missão diabólica. Os cristãos antigos pensavam que o anticristo seria Nero redivivo. E muitos crentes ensinam, até hoje, que Elias terá uma outra missão na terra, antes do segundo advento de Cristo. João foi cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento(Luc. 1:15). Deve haver razões imperiosas para uma coisa assim, não meramente dentro da vontade de Deus, masno próprio indivíduo. Os pais da Igreja oriental não encontravam dificuldades com essas ideias. Eles acreditavam na preexistência da alma e, assim sendo, uma alma altamente desenvolvida e poderosa como era João, já teria chegado desse modo na terra, não se tendo tornado uma figura espiritual importante somente depois de haver nascido de Isabel. João Batista teria vindo como um missionário. Tivera uma longa e espiritualmente próspera história, muito antes do século I A.C. Outro tanto poderia ser dito a respeito de Paulo, que era um vaso escolhido antes de seu nascimento, que se deu no século I D.e. Ver Gál. 1:15.

Não há como dizermos, com toda a confiança, que João Batista era a mesma entidade que Elias; mas também não há bases doutrinárias e dogmáticas que nos levem a negar essa possibilidade. O ponto é deveras interessante, embora não seja crítico. Ver o artigo geral sobre a Reencarnação, onde mostramos os pontos prós e contras, envolvidos na questão. Há algo de romântico em torno da ideia de que não estamos limitados a uma única vida, obrigatoriamente, para cumprir nossas missões espirituais neste mundo, antes de, finalmente, tomarmos nosso lugar no mundo da luz, a fim de nos ocuparmos de novos aspectos de labor e de desenvolvimento espiritual.

Contudo, o romantismo não prova coisa alguma, embora não devamos limitar o poder de Deus, mediante uma visão que pode ser míope. Deus não parece ter pressa, conforme alguns teólogos dão a impressão. A vida é imensa, e não pode ser explicada, no tocante a indivíduos, supondo-se que eles começaram, como entidades, faz apenas alguns anos. A preexistência de todas as almas. por outro lado, faz muito sentido, e é uma ideia que, apesar de especulativa, merece nosso respeito e uma contínua investigação. Ver o artigo geral sobre a Alma, em sua primeira seção, A Origem da Alma. Naturalmente, a preexistência da alma pode ser uma realidade, mesmo em o seu corolário, a reencarnação. Só o tempo dirá o quanto há de verdade ou de falsidade nessa ideia.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol.3, Editora HAGNOS. pag.551-553.



2. O Messias rejeitado.

10 Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?
Os escribas defendiam a seguinte doutrina: O retorno de Elias precede a chegada do Messias (do Cristo). Como foi que os escribas desenvolveram esse dogma? Ele é válido ou não?
11,12 Então, Jesus respondeu: De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles.
No v. 11 Jesus confirma a doutrina dos escribas, porque é uma afirmação oriunda do AT. O AT termina com as declarações do profeta Malaquias (3.23s): “Eis que vou enviar-vos Elias, o profeta, antes que venha o dia do Senhor, o grande e terrível dia…” Os escribas usam essas frases de Malaquias para comprovar a partir da Escritura que Jesusnão é o Messias prometido no AT e que a fé dos discípulos em Jesus como o Messias não é consistente com a Escritura, porque Elias ainda não teria vindo.
Jesus diz: Elias já veio. E restaurará todas as coisas. O que significa o termo: “restaurar”? Billerbeck explica: “Temos de supor que na expressão restaurar foi resumido, desde tempos antigos, tudo o que se acreditava que se podia esperar do retorno de Elias. A LXX já empregou o termo para  traduzir a palavra de Malaquias (3.24): „Eliasrestaurará o coração dos pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais‟. Ela foi ampliada no sentido de que Elias restauraria a disposição interior correta de Israel, conduzindo o povo ao arrependimento.” Isso é verdade, diz Jesus. Elias já chegou, mas os escribas não o reconheceram. Porém agiram com ele como queriam.
RIENECKER. Fritz. COMENTÁRIO ESPERANÇA EVANGELHO DE MATEUS. Editora ESPERANÇA. pag.198, 199.



Observação preliminar Contexto. Os evangelistas conseguem passar para um novo evento sem mencionar com uma só palavra a mudança de lugar e de ocasião. Este parece ser o caso aqui. Marcos insere um diálogo que Jesus teve não com os três confidentes mas com todos os discípulos (como está em Mt 17.10). Lucas reconheceu a inserção e a deixou fora. Por outro lado, este diálogo combina com o conteúdo do quadro, pois desde o v. 31 o mistério do sofrimento do Filho do Homem é o assunto central. Elias também acabara de ser citado no v. 5.

11 E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas. Apesar da voz do céu no v. 7, eles ainda não prestam atenção no que Jesus diz, neste caso em seu ensino sobre o sofrimento a partir do v. 31, antes, enredam-se nos argumentos dos professores da lei (cf. antes 2.16; 3.22,30). Aqui a lógica deles é a seguinte: Jesus não pode ser o personagem salvador decisivo, porque este devia ter seu precursor: é necessário que Elias venha primeiro (opr 2 a 6.14-16). Este “é necessário” enfatiza como no v. 31 um curso de ação baseado na Escritura. O próprio Deus está por trás, e Jesus estaria indo contra Deus pois, segundo a Escritura, não há Messias sem Elias. Acima de tudo concluía-se da expectativa judaica pela vinda de Elias que o Messias é meramente um personagem glorioso. Elias é quem “restauraria todas as coisas”, ou seja, traria uma melhora abrangente de todas as circunstâncias. Depois disto, o Messias não teria por que sofrer. Desta perspectiva não nos admira que os ensinos de Jesus eram difíceis de entender para os discípulos, já que Jesus falava cada vez mais que era necessário que ele sofresse.

12 Primeiro Jesus confirma a validade da palavra profética de Ml 3.23,24: Então, ele lhes disse: Elias, vindo primeiro, restaurará todas as coisas. Mas depois é o próprio Jesus quem apresenta a contradição que resulta disto:como, pois, está escrito sobre o Filho do Homem que sofrerá muito e será aviltado? (cf. v. 31). Os atos de Elias não tornam desnecessários os sofrimentos do Messias? Como harmonizar um texto bíblico com outro?

13 Eu, porém, vos digo. Como intérprete autorizado (cf. 1.22), Jesus corta o nó e encaminha o problema para a solução: Elias já veio. Com isto Jesus tira o véu do que acontecera nos últimos tempos na Palestina. No movimento de batismos no Jordão, Israel já tivera seu “Elias”. Os discípulos entenderam, com base em Mt 17.13; cf. 11.14, que a referência era a João Batista. Esta definição de quem era João certamente era alarmante. Se o precursor já viera, então eles estavam em plena época messiânica.

Ao mesmo tempo Jesus enriquece a ideia que o judaísmo fazia de Elias, a partir da Escritura: e fizeram com ele tudo o que quiseram, como a seu respeito está escrito. Apesar de se ocuparem em grande escala com a profecia de Elias, coisas essenciais tinham escapado aos judeus. Segundo a Escritura, Elias nem era alguém que convertia as multidões, de modo irresistível e mágico. Também, qual a valia de tal conversão! Elias – e Deus por meio dele – deixava um amplo espaço para decisões. Este espaço foi mal usado, e Elias teve de sofrer as consequências deste “espaço”. Acabe e Jezabel perseguiram o profeta com todos os meios (1Rs 17–21). Fizeram com ele tudo o que quiseram é uma expressão básica em Daniel e lá pertence ao quadro da soberania anticristã e oposta a Deus – aparentemente sem limites, atuante em todos os lugares, sem concorrência e com sucesso assombroso (Dn 5.19; 8.4,7; 11.3,16,36).

João, então, viera “no espírito e poder de Elias” (Lc 1.17). Neste caso, quem eram “estes” que responderam como quiseram ao seu chamado à conversão? Certamente também Herodes e Herodias, pois em 6.14-29 pode-se reconhecer certa comparação deste casal real com Acabe e Jezabel. Principalmente, porém, devemos pensar na oposição dos professores da lei. Ao mesmo tempo que João Batista pôde restaurar o povo espiritualmente (Lc 3.10-21), os seus representantes lhe impuseram uma derrota (Mc 11.31; Lc 7.30; 11.52). O casal real só serviu de atendente de execução (3.6).

Este fracasso de João Batista, no entanto, não contradiz seu papel de Elias; pela Escritura, é isto que tinha de acontecer. Portanto, não há mais Elias para esperar. O tempo messiânico chegara. E o

Messias que ia em direção ao seu sofrimento, que estava ligado diretamente ao do seu precursor, estava bem no meio dos discípulos. 
POHL. Adolf COMENTÁRIO ESPERANÇA EVANGELHO DE MARCOS. Editora ESPERANÇA. pag.188, 189.



IV - ELIAS, O MESSIAS E A EXALTAÇÃO

1. Humilhação.

11. De fato, Elias virá primeiro. A forma é presente futuro. Jesus proclama aqui que Ml. 4:5 será cumprido.
12,13. Elias já veio. Para os judeus que não eram espirituais e que meramente andavam à caça de sinais, o próprio João dissera "Eu não sou Elias" (isto é, o profeta do V.T. ressuscitado, Jo. 1:21). Entretanto, para os que eram sensíveis espiritualmente, João já viera "no espírito e virtude de Elias" (Lc. 1:17), e os homens foram levados a Cristo por intermédio dele. Assim o oferecimento que Jesus fez do reino foi uma oferta válida, dependendo da aceitação nacional, e Israel não poderia acusar a ausência de Elias para o seu fracasso em reconhecer Jesus. Deus em sua onisciência sabia que Israel, na primeira vinda de Cristo, não estava preparada para o sinal do ministério de Elias, e por isso enviou João "no espírito e virtude de Elias".
MOODY. Comentário Bíblico. Mateus. pag.85, 86.



17:11: Respondeu ele: Μα verdade Elias havia de vir e restaurar todas as coisas,--interrogaram: Paralelo cm Marc. 9:9-13. A questão da volta de Elias era complicada: e. de fato, para muitos ate hoje permanece problemática.

Alguns acreditam que o ministério de Joao Batista cumpriu todas as exigências proféticas (ver Mal. 4:5). Diversos interpretes acreditam que Jesus indicou isso, e eliminou totalmente qualquer necessidade de esperar uma vinda futura de Elias. Mas a analise da própria profecia cria problemas insuperáveis se não incluirmos a ideia que Elias, ou outra personagem cm seu espirito, não terá de cumprir ainda outro ministério, antes da segunda vinda de Cristo. O estudo da profecia ilustra o fato que esse ministério devera ocorrer antes dogrande e terrível dia do Senhor .-׳ Dificilmente podemos afirmar que Joao Batista cumpriu essa exigência. Além do fato que Joao não cumpriu a questão do tempo da profecia, também e evidente que não foramrestauradas todas as coisas, conforme requer a profecia. Se o reino tivesse sido aceito (e foi genuinamente oferecido), então o ministério e a pessoa de Joao Batista teriam sido suficientes para cumprir essa profecia, c os acontecimentos subsequentes teriam cumprido todos os detalhes da profecia. Mas o fato do reino não haver sido aceito indica que aparecera ainda um outro precursor, quando se completarão todas as minucias da profecia. Alguns creem que Elias e uma das testemunhas de Apo. 11:3. A outra testemunha tem sido variegadamente aceita como Moises. Enoque, etc. Não e indiscutível que as Escrituras ensinam assim, mas e opinião geral de alguns interpretes que Elias ainda terá um ministério a ser cumprido no futuro. Outros interpretes, entretanto, não acham —necessário —que ele mesmo cumpra tal ministério antes da segunda vinda de Cristo, mas que pode ser algum outro homem no espirito dele, como aconteceu a Joao Batista, que cumpriu seu ministério, nos dias de Jesus, como se fosse Elias.

ALGUNS interpretes, como Alford, acham que essa profecia e de dupla aplicação, o que. alias, e muito comum as profecias. A primeira aplicação seria a vida de Joao Batista, que foi profeta que veio no espirito de Elias, e a segunda aplicação se refere ao próprio Elias (ou outro personagem em seu espirito). Ambas as ideias, pois. podem ser incluídas nessa profecia. Jesus mostrou sua primeira aplicação. e continuamos esperando outro cumprimento £ provável que o aparecimento de Moises e Elias tenha renovado a esperança do estabelecimento do reino literal e politico, e que os discípulos quisessem receber uma explicação sobre os ensinos dos escribas, que diziam que tal reino só ocorreria quando da vinda de Elias. Não e que os discípulos não tivessem ficado impressionados com a transfiguração de Jesus, mas e que continuaram a pensar seriamente no reino e no livramento do domínio romano; c a visão provocou a necessidade de uma explicação acerca do ensino sobre Elias, que por muitas vezes tinham ouvido nas sinagogas. As principais passagens usadas nesse ensino dos escribas eram Mal. 3:1-4 e 4:5.

As passagens bíblicas que indicam uma outra restauração, que ainda ocorrera no futuro, são Atos 3:21; Rom. 8:21; Efe. 1:22.23; 1 Cor. 15:28. e muitas outras. Os judeus esperavam que Elias viesse solucionar as divergências entre as diferentes escolas teológicas, a restauração da vara de Arão e da arca que continha o mana. Além disso, o povo esperava uma santificação da nação cm geral; por conseguinte, em linhas gerais, podemos asseverar que eles esperavam uma restitutio in integrum*.

As citações da literatura judaica que ilustram essa esperança, são as seguintes: *No segundo ano de Acazias, Elias estava escondido; ele não aparecera de novo ate a vinda do Messias; naquele tempo ele aparecera e ficara escondido pela segunda vez: c não aparecera senão quando surgirem Gogue e Magogue- (Seder Olam Rabia. pars. 45.46). Diversos outros autores afirmam a mesma coisa, como Maimonides: ...são homens sábios os que dizem que antes da vinda do Messias, devera chegar Elias (Hilch. Melachim, c. 12, sec. 2). Trifo, o judeu, por muitas vezes mencionado no Talnmde, nos diálogos de Justino, homem que Justino faz dc porta-voz dos judeus, expressando os seus pensamentos, afirma: ...o Messias não reconhecera a si mesmo, nem terá qualquer poder, ate que Elias venha para ungi-lo e torna-lo conhecido por todo o povo (Dialogo com Trifo. par. 226). Entre os judeus havia um proverbio, usado em relação a qualquer controvérsia, que dizia:Que assim fique ate que Elias venha, pensando-se que ele resolveria qualquer debate. (Ver Misn. Bava Metzia, c. 1. sec. 8, c outros).



17:13: Então entenderam os discípulos que lhes falara a respeito de João, o Batista.
·...Elias já veio». Alguns interpretes acham que Jesus mostrou, aqui. uma forma de interpretação livre, ensinando que a vinda literal de Elias, ou de outro ministério futuro no espirito de Elias, não constava de suas doutrinas. Os escribas pregavam o aparecimento necessário de Elias, interpretando as Escrituras do V.T.. mas. de conformidade com a ideia defendida por esses interpretes, Jesus simplesmente não aceitava essa opinião dos escribas; pelo contrario, cria que o ministério de Joao Batista havia satisfeito a todas as exigências proféticas, quer para aquele tempo quer para o futuro. Outros interpretes acreditam que Jesus se referiu a um único aspecto dessas profecias, a saber, aquelas que dizem respeito a sua primeira vinda, e que simplesmente não mencionou a necessidade de outro ministério futuro. Ver notas sobre os vss. 10 c 11. que tratam desse problema c procuram conclusões para o problema.

...1׳ não o reconheceram·. A q u i o verbo grego implica em conhecimento total c exato, com forma intensiva, pelo que a tradução da AA c da IB. reconheceram-, e melhor do que a da AC. que diz *conheceram. O povo. de modo geral, linha opinião elevada sobre Joao Batista, no que contrastava com as autoridades, que logo se tornaram inimigas suas. Mas e claro que ate mesmo os mais favoráveis a Joao Batista não pensavam nele como o precursor do Messias, embora ele dissesse que era exatamente isso. As autoridades reconheceram o poder da mensagem de Joao, mas não aceitaram nem a sua pessoa nem a sua mensagem. O povo reconheceu-o como profeta, mas não como o profeta ►Elias, o precursor do Messias.

*...fizeram com ele...». No principio, muitos apoiaram o ministério de Joao. Mas a sua mensagem era severa, exigindo arrependimento total e sincero, ao mesmo tempo que ele teve de lutar contra o sistema religioso estabelecido em Israel. Demonstrou 0 desejo de criar uma revolução religiosa, cm sua pregação sem duvida, também deixou entendida a revolução politica. As autoridades, contudo, não quiseram arrepender-se; tinham receio da revolução religiosa ou politica. E assim, aquilo que a principio causou certa admiração pela pessoa de Joao Batista, transformou-se em medo. O medo—degenerou—em oposição. A oposição despertou o ódio. Pode-se dizer que, de modo geral, o povo não tinha o desenvolvimento espiritual necessário para aceitar a João e a sua mensagem. Sua presença se tornou um problema difícil de ser suportado. Qual o remédio? A eliminação da presença indesejável, c Herodes realizou esse serviço em favor das autoridades religiosas dos judeus. Ver notas detalhadas sobre essa historia, em Mat. 14:1-12. Ver notas detalhadas sobre os ׳ escribas. em Marc. 3:22; sobre os fariseus, em Marc .3:6: sobre os saduceus, cm Mat. 22:23;
sobre 0 sinédrio*, em Mat. 22:23: sobre os herodianos, cm Mar. 3:6 c sobre os Herodes, em Luc. 9:7.

·Assim também o Filho do homem.......Talvez a angustia dos discípulos. ante a morte de Joao Batista, já tivesse se aplacado, e essas palavras de Jesus não foram bem acolhidas, especialmente porque Jesus estava repetindo a predição sobre a sua própria morte, fazendo comparação com a morte de Joao, o que mostrava que assim como Joao Batista teve morte violenta as mãos das autoridades religiosas, assim também sucederia com ele. É possível que a visão de Elias tivesse criado nova esperança sobre o reino politico nos corações dos discípulos e Jesus quis avisa-los que essa esperança era vá; realmente, o que deviam esperar era só tragédia e sofrimento. Ver nota detalhada sobre o Filho do homem, em Marc. 2:7 e Mat. 8:20.

•Então os discípulos entenderam...·. Que desapontamento devem ter sofrido os discípulos! O grande Elias, que pouco antes tinham visto na visão. não haveria de chegar para estabelecer o reino literal. Seu ministério já fora cumprido, mas em comparação com as altas aspirações judaicas, se cumprira de maneira tão mesquinha. Então o grande Elias já morrera! Fora o decapitado! O pregador decapitado representou o ministério de Elias! Além disso, o Messias continuava vivo, mas não viveria por muito tempo. Estabelecimento do reino? Não! Mas outra morte, outra tragédia, mais sangue, mais violência. Provavelmente os discípulos ainda não haviam aceito essa possibilidade: ainda esperavam algum milagre que modificasse a situação, c somente essas falsas esperanças os sustentavam naquela hora.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. VOL 1. Editora HAGNOS. pag.456.



2. Exaltação

Ele e os outros dois discípulos foram testemunhas oculares da Sua majestade (16). A Transfiguração é considerada aqui como uma antecipação, um penhor da glória a ser revelada "quando o Filho do homem vier em sua glória". Pedro, com Tiago e João, presenciou o testemunho do Pai acerca do Filho, prova esta do poder e autoridade da mensagem do evangelho.
A voz procedeu da Glória Excelsa (17); gr. megaloprepes, de megas, grande, e prepo, adequada ou conveniente; donde majestosa, adequada a um grande homem. (Cf. o testemunho em Jo 1.14 "vimos a sua glória"). Segue-se a confirmação profética.
NOVO. Comentário da Bíblia. 2 Pedro. pag. 9.



2 Pedro 1:16-18

Aqui Pedro chega à mensagem que tanto desejava dar a sua gente. A mensagem referente ao "poder e à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". Como veremos muito claramente à medida que avancemos, o grande propósito desta Carta era confirmar os leitores na certeza com relação à Segunda Vinda de Jesus Cristo. Os hereges aos quais Pedro estava atacando já não criam na Segunda Vinda; esta tinha demorado já tanto tempo que muitos começavam a pensar que jamais sucederia.

Segunda Pedro é, acima de tudo, uma Carta que trata de reavivar a crença na Segunda Vinda de Cristo.

Tal é, pois, a mensagem de Pedro. Tendo manifestado isto, passa a referir-se a seu direito a declará-la. Então faz algo que, ao menos à primeira vista, é surpreendente. Seu direito a falar deste assunto se baseia em que ele tinha estado junto com Jesus no Monte da Transfiguração e que ali viu a glória e a honra que lhe foram conferidos e ouviu a voz de Deus falando-lhe de Jesus. Quer dizer, Pedro usa o relato da transfiguração não como um gozo antecipado da ressurreição de Jesus — como geralmente é considerada — mas sim como o gozo antecipado da glória triunfal da Segunda Vinda.

O relato da transfiguração propriamente dito se acha em Mateus 17:1-8; Marcos 9:2-8; Lucas 9:28-36. Estava acertado Pedro ao considerar tal acontecimento como uma predição da Segunda Vinda, antes que como uma prefiguração da ressurreição?

Há algo particularmente significativo com relação ao relato da transfiguração. Nos três evangelhos —Mateus, Marcos e Lucas— segue imediatamente à profecia de Jesus no sentido de que havia junto com Ele alguns que não deixariam este mundo sem antes ver o Filho do Homem vindo em seu Reino (Mateus 16:29; Marcos 9:1; Lucas 9:27). Isto certamente pareceria indicar que a transfiguração e a Segunda Vinda estão de alguma maneira relacionadas.

Seja qual for a forma em que opinemos, isto pelo menos é seguro: que o grande propósito de Pedro ao escrever esta Carta é reconquistar a seus leitores para uma viva crença na Segunda Vinda de Cristo, e que baseie seu direito a fazer isto no que tinha visto estando sobre o Monte da Transfiguração.

No versículo 16 desta passagem há uma palavra muito interessante. Diz o apóstolo: fomos testemunhas oculares de sua majestade. A palavra que emprega para expressar a idéia ser testemunha ocular é epoptes. Segundo o uso do idioma grego na época de Pedro, este era um vocábulo técnico. Já referimos às religiões de mistérios.

Todas elas eram de natureza semelhante a dramas da paixão nas quais se relatava a história de um deus que tinha vivido, sofrido, morto e ressuscitado para nunca mais voltar a morrer. Somente depois de um prolongado curso de instrução e preparação concedia-se a um adorador presenciar a representação de um destes dramas e ter a oportunidade de identificar-se assim com o deus que morreu e ressuscitou. Quando alcançava a condição de ser admitido a uma destas representações era considerado um iniciado. A palavra técnica para descrever tal condição era epoptes, quer dizer: estava preparado para desfrutar do privilégio de ser testemunha ocular das experiências do deus. De maneira, pois, que Pedro diz que o cristão é testemunha dos sofrimentos de Cristo. Com os olhos da fé o cristão vê a cruz; na experiência da fé morre com Cristo para o pecado e ressuscita para a justiça. Sua fé o tem feito um com Jesus Cristo em sua morte e em sua ressurreição.

BARCLAY. William. Comentário do novo testamento. 2 Pedro. pag.35-37.


Fonte:http://estudaalicaoebd.blogspot.com.br/p/licao-9_1253.html


Por 
Dc. Geazi Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário