Na sociologia,
uma “instituição” é um padrão estabelecido da vida social. Os sociólogos
costumam identificar cinco instituições: (1) o governo, (2) a economia, (3) a
educação, (4) a religião e (5) a família. Mas, em maior grau que qualquer outra
instituição, a família incorpora todas as funções de uma sociedade. Ela
manifesta os padrões de autoridade e organização (governo). Ela recebe e
dispensa fundos (economia). Ela ensina habilidades e conhecimento (educação) e
alguma forma de devoção (religião). A família é, portanto, a unidade básica da
sociedade.
As
famílias são necessárias na vida pessoal e social. As pessoas precisam de
famílias para desfrutar de intimidade, relacionamento estreito e segurança. As
sociedades precisam de famílias para garantir sua continuidade e lhe preparar
membros responsáveis. Não surpreende, portanto, que mais de 95% das pessoas se
casem. E, apesar de algumas diferenças de forma, o casamento e a família são
fundamentais em todas as culturas conhecidas.
Os
últimos anos têm provocado mudanças radicais na vida familiar da maioria dos
países do Ocidente. Nos Estados Unidos, o número de famílias com presença única
do pai ou da mãe é mais que o dobro do que havia em 1965. Agora, mais de 20% de
todas as famílias com filhos têm só um pai ou uma mãe. O índice de divórcio
flutua em torno de 5,5 para 1000 (comparado a 2,5 em 1965). Os casamentos
duram, em média, menos de dez anos. Há reivindicações ostensivas de casamentos
e adoções para homossexuais. É evidente que a atividade sexual pré-conjugal é o
padrão do mundo. Aproximadamente 70% de todos os universitários relatam ter
mantido relações sexuais. Proporção semelhante de pessoas casadas relata
infidelidade conjugal.
Clamores
por uma redefinição da família têm acompanhado essas mudanças. Diante desses
clamores, a Bíblia permanece como fonte de constância e esperança (1) ensinando
um modelo normativo para a vida familiar, (2)
tratando das principais questões que confrontam a família em sua
sociedade e (3) fornecendo recursos e orientação para a edificação da família.
Um modelo
bíblico de família
A Bíblia
reconhece que todas as culturas necessitam da família. A família repõe a
população (Gn 1.28). Ela estabelece controle sobre instintos sexuais (1Ts
4.3-6; Hb 13.4). Ela dá identidade a seus membros (Sl 127-3-4). Ela prove
treinamento básico para a vida social (Pv 4.1-27).
O
interesse principal da Bíblia, porém, é fazer com que a família tenha o devido
relacionamento com Deus. O ensino bíblico é organizado em torno de três
conceitos chave: (1) a primazia absoluta do casamento, (2) a função da família
e (3) as relações funcionais na família.
A
prioridade do casamento. A Bíblia
confirma com veemência a primazia do casamento como a unidade básica da vida
social. Isso é feito de pelo menos três maneiras.
Psicologicamente. O mais
fundamental dos princípios do casamento é a complementaridade, a
interdependência de homem e mulher na intimidade marital. Esse é um tema
importante nos relatos da criação.
Gênesis
1.27 registra que Deus criou “o homem à sua imagem [...] homem e mulher os
criou”. Alguns estudiosos entendem que a “imagem de Deus” consiste na união de
macho e fêmea. A imagem de Deus parece incluir mais que masculinidade e
feminilidade. E, é claro, a Bíblia permite, de acordo com o momento, o celibato
(Mt 19.12; 1Co 7.8,32). Entretanto, o casamento é o que permite expressão plena
da identidade sexual.
O
princípio de complementaridade é mais explícito no relato da criação da mulher:
“Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn 2.18). A solidão do homem não era boa (cf.
Gn 1.31), de modo que Deus providenciou uma “ajudadora idônea”. A palavra
hebraica traduzida por “idônea” significa literalmente “colocada em oposição a
ele para que possa ser comparada a ele”. Isso indica uma correspondência ou uma
adequação, uma interdependência de tipos diferentes, mas semelhantes, de
pessoas.
A
declaração máxima de complementaridade está em Gênesis 2.24: “Por isso, deixa o
homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. No pensamento
hebraico, “carne” pode referir-se não só à matéria biológica, mas ao que hoje é
chamado “personalidade”. Um casal, portanto, não só se torna biologicamente um,
como também emocional, espiritual e psicologicamente um. No casal há um dar e
receber mútuo daquilo que está no íntimo deles. Isso explica em parte o
eufemismo bíblico de “conhecer” como sinônimo de relação sexual (Gn 4.1; 19.8).
Sociologicamente. O
casamento também tem primazia como a unidade social básica. O casamento é uma
“ordenança da criação”, não uma ordenança da igreja. Isso significa que o
casamento é válido e impõe obrigações para todos, independentemente da fé em
Cristo (1Tm 4.3-5).
A Bíblia
apresenta o casamento como provisão de Deus para regular e sancionar a
atividade sexual (Hb 13.4; Gn 2.24). Isso é crucial para qualquer sociedade. Na
Bíblia, todos os privilégios, responsabilidades e consequências da vida sexual
são confiados ao ambiente conjugal de compromisso mútuo e aprovação social.
Teologicamente. O
casamento é uma relação de compromisso firmado de maneira formal, como
demonstram os termos “deixar” e “unir” (Gn 2.24; também Mt 19.5; Mc 10.7; Ef
5.31). Esse compromisso resulta em aprovação social para a união do casamento.
Para os
cristãos, o casamento bíblico leva mais adiante o ideal do compromisso.
Trata-se de uma “aliança” entre os parceiros (Ml 2.14) e com Deus (Ml 2.10). O
casamento cristão deve, assim, ser “no Senhor” (1Co 7.12-16; 2Co 6.14-18). Ele
também possui significado teológico, simbolizando a relação de Cristo com a
igreja (Ef 5.32).
A família
como unidade funcional. A Bíblia
usa dois grupos de palavras para descrever uma família. De longe, o mais comum
dentre os dois é “casa” ou “família” (grego oikos;
hebraico bayit). No
Antigo Testamento, ele ocorre mais de mil vezes; no Novo, mais de trezentas.
Com
frequência, as palavras referem-se simplesmente a uma habitação. Mas em geral
referem-se a pessoas que vivem juntas num relacionamento familiar. Muitas vezes
as palavras têm o sentido ampliado, como “a casa de Israel” (Êx 40.38) e “casa
de Levi” (Nm 17.8) ou a “casa de Saul” (2Sm 3.1). Às vezes elas denotam uma
família nuclear ou imediata (Mc 6.4; 1Tm 3.5).
Essas
palavras definem a família de acordo com sua função.
Um oikos (bayit) é um
grupo em atividade. É um sistema ou um ambiente caracterizado por certas
atividades essenciais. A palavra “economia” serve bem como ilustração. Ela vem
de oikos e de nomos (“lei”), assim, seu primeiro significado é a lei da família. Em grego, oikonomia denota a gerência ou administração da casa
(Lc 16.3).
O oikos (bayit) é uma
unidade social a que Deus atribui algumas responsabilidades. Entre elas estão a
provisão de necessidades básicas (1Tm 5.8), a criação de filhos (1Tm 3.12), a
proteção (Mt 12.25) e a promoção da qualidade de vida para pais e filhos
(“edificar a casa”, Pv 24.3). A Bíblia pressupõe que essas tarefas exigem certa
ordem estrutural dentro da família e ordem estrutural também no que diz
respeito à família na sociedade.
Dentro da
família, é preciso que a ordem prevaleça (1Tm 3.5,12; Pv 11.29). A autoridade
legítima é reconhecida, mas delimitada com cuidado. O marido é encarregado de
liderar a família em amor (Ef 5.24), compreensão e respeito (1Pe 3.7; Cl
3.18-19). A esposa tem a obrigação de respeitar essa responsabilidade de
liderança (Ef 5.22; Cl 3.18), de incentivar o marido nessa responsabilidade (Tt
2.4; Pv 31.10-11), mas sem nenhuma sensação de medo ou intimidação (1Pe 3.5-6).
As
tarefas de manter e edificar a casa estabelecem desse modo as esferas de
responsabilidades básicas. A esfera do marido é a provisão e a liderança para o
bem da casa. Em 1 Timóteo 5.8, por exemplo, ele é considerado responsável pelo
“cuidado dos seus”. A esfera da esposa é a provisão e a liderança dentro da
casa. Em 1 Timóteo 5.14 as mulheres são instruídas a serem “boas donas de casa”
(também Tt 2.4-5; Pv 31.27).
É claro
que essas áreas não se excluem. A diferença está no eixo. A responsabilidade
principal do marido é dar provisão e direção para a casa. A da esposa é cuidar
e gerir a casa.
As
famílias precisam não só de ordem interna, como também de ordem em relação à
sociedade. A Bíblia entende que a família é a principal unidade na concessão de
cuidados para seus membros. A responsabilidade de instruir os filhos (Sl
78.4-6; Pv 22.6) e o cuidado com os idosos (1Tm 5.4), por exemplo, são da
família, não de outras instituições sociais. Numa sociedade altamente complexa,
essas tarefas são com frequência exercidas de maneira indireta. Mas a Bíblia
deixa claro que são obrigações da família.
Além
disso, a Bíblia fala da família como o ponto de contato estratégico entre o
indivíduo e a comunidade maior. A família é um amortecedor, oferecendo refúgio
e paz (Pv 25.24; Lc 10.5; Mc 3.20-21). É um ambiente para desenvolver
relacionamentos (cf. 1Tm 5.1-2), suprir necessidades (Rm 12.13) e comunicar
ideias (especialmente o evangelho) de maneira seletiva, mas liberal (Mt
9.10-11; 10.12-13; Fm 2). É notável que os lares foram os principais
instrumentos de evangelização e ministério na igreja primitiva (At 2.46; 1Co
16.15; Cl 4.15). A família é o campo de treinamento de cidadãos responsáveis
(Dt 11.9-21) que podem causar um impacto permanente na sociedade (Sl 127.3-5;
Ml 2.15). Ela é, acima de tudo, um ambiente propício para desenvolvimento da fé
viva (Dt 6.7; 2Tm 1.5).
A família
como unidade relacional. O segundo
grupo de palavras que denotam “família” é patria (e outra afim, genos), no
Novo Testamento (em hebraico, mispabah). Elas
ocorrem menos de vinte e cinco vezes no Novo Testamento, enquanto mispahah ocorre no Antigo Testamento cerca de
trezentas vezes. Essas palavras destacam as relações que mantêm as famílias
juntas, ou seja, o parentesco.
Associações
frágeis às vezes chamadas “família” na cultura contemporânea são desconhecidas
na Bíblia. A família é formada pelo casamento, depois nascimento ou adoção (Gn
15.3). Pela Bíblia, um relacionamento não é uma ligação emocional. O
relacionamento implica um conjunto de responsabilidades exigidas por laços de
compromisso (casamento) e sangue (filhos).
Os
princípios bíblicos para construir relacionamentos devem ser interpretados
nesses termos. A Bíblia mostra pouco interesse em preocupações modernas como
capacidade de relacionar-se ou dinâmicas interpessoais. Os relacionamentos
familiares repousam principalmente na responsabilidade para com o cônjuge, os
filhos, os pais e os parentes (Ef 5.22-6.4).
A Bíblia e
as questões familiares
Como a
unidade social básica, cada questão social atinge de algum modo a família. É
claro, porém, que algumas questões chegam mais perto do centro da identidade e
do bem-estar familiar. Na sociedade contemporânea, estariam entre essas
questões: papéis sexuais (veja acima), a extensão e os tipos de comportamento
sexual e os padrões de casamento.
A Bíblia
e a sexualidade humana. O
primeiro princípio bíblico da sexualidade humana é que o sexo é legítimo exclusivamente dentro da aliança do casamento. A
declaração concisa desse princípio em Gênesis 2.24 é a corte de apelação em
todo o Novo Testamento em questões ligadas ao casamento e ao comportamento
sexual (veja Mt 19.5-6; Mc 10.8; Ef 5.31). As implicações desse princípio
orientador são também examinadas na Bíblia.
Primeiro,
todos os desvios sexuais são condenados (Gl 5.19; Rm 1.24). Entre eles a
relação sexual com crianças (pedofilia, veja Mt 18.6), o incesto (Lv 20.11-21)
e o comportamento homossexual (Lv 18.22; Rm 1.26-27).
Segundo,
a atividade sexual está sempre ligada à edificação da família. Isso não significa que o único propósito da
sexualidade são os filhos, por mais que sejam importantes (Sl 127.3-5;
128.3-6). Significa que a Bíblia coloca o sexo dentro da estrutura da formação
da família. Todo ato sexual, de regra, possui potencial para concepção. E a
relação sexual é o meio pelo qual se cumpre a ordem divina de gerar filhos (Gn
1.28). Ele também expressa amor (Hb 13.4), nutre o companheirismo (Pv 5.18-19)
e fortalece o compromisso (1Co 7.3-4). Por conseguinte, como princípio
operacional, qualquer atividade sexual que não possa ser considerada promotora
da formação de famílias vai contra a Bíblia. O sexo pré-conjugal, por exemplo,
coloca a intimidade sexual antes da aliança do casamento. Ele também tem o
potencial de produzir filhos para os quais ainda não foi preparado o ambiente
seguro de um lar (casamento). Assim, ele não consegue edificar uma família.
Terceiro,
a sexualidade causa consequências psicológicas poderosas. O sexo é o modo de
união no casamento (Gn 2.24). Ele junta duas pessoas formando “uma carne” (veja
acima). O sexo no casamento desenvolve a personalidade. Mas fora dele, distorce
e prejudica emocionalmente (1Co 6.18; Ml 2.16).
Quarto, o
casamento é a provisão divina para expressão sexual (1Co 7.9). Como tal, é
normal e bom (Jo 2.1-11; 1Tm 4.3; 5.14). A Bíblia certamente permite o celibato
e o recomenda para uma vida de devoção completa (1Co 7.7-9,32-34). Mas a noção
de celibato egoísta que busca o próprio prazer é estranho à Bíblia. O celibato
bíblico sempre inclui castidade e devoção (Mt 19.10-12; 1Tm 5.9-11).
A Bíblia
e o divórcio e o novo casamento. Assim como ocorre hoje, o divórcio era comum
em todo o mundo greco-romano e em Israel após o exílio (cerca de 536 a.C.).
Isso explica os severos alertas a respeito do divórcio e novo casamento em
Malaquias (cerca de 430 a.C.) e em todo o Novo Testamento. Enquanto o divórcio
vem se tornando mais aceitável na sociedade, os cristãos questionam cada vez
mais o ensino bíblico sobre o assunto.
A
discussão envolve quatro passagens-chave nos evangelhos (Mt 5.32; 19.3-12; Mc
10.2-12; Lc 16.18), uma nas epístolas de Paulo (1 Co 7) e algumas no Antigo
Testamento (especialmente Dt 24.1-4). A questão decisiva nessas passagens é se
há motivos justificáveis para o divórcio e, caso haja, quais.
Debates
extensos tem levado a diferentes conclusões entre cristãos evangélicos. Alguns
não encontram permissão alguma para o divórcio. Outras encontram uma, duas ou
várias. Outras permitem o divórcio, mas não o novo casamento.
Um ponto
crucial nesse debate é Mateus 19.3-9 (também Mc 10.2-12), onde Jesus citou a
permissão mosaica de um “certificado de divórcio” no contexto do próprio
ensino. Jesus afirmou que Moisés “permitiu” essa prática por causa da dureza
dos corações. A prática é descrita em Deuteronômio 24.1-4 que, porém, não
prescreve nenhuma base para divórcio. Antes, proíbe o novo casamento de um
casal previamente divorciado.
O motivo
do divórcio (“por ter ele achado coisa indecente nela”) é ambíguo em hebraico.
Já na época do Novo Testamento, os rabinos judeus dividiam-se quanto ao
significado da frase. Os seguidores do rabino Shammai limitavam o significado a
“adultério”. Os seguidores do rabino Hillel incluíam qualquer coisa que
desagradasse. A pergunta dos fariseus reflete esse debate (19.3). Jesus evitou
o laço armado e, ao mesmo tempo, elaborou três pontos importantes acerca do
divórcio.
Primeiro,
ele declarou que a questão do divórcio não era pertinente. Deus queria que o
casamento fosse uma relação de aliança e uma união que formasse “uma só carne”
pelo resto da vida (19.4-6).
Segundo,
Moisés não instituiu o divórcio, nem forneceu bases para isso. Ele só permitiu
e regulamentou o divórcio como uma realidade social que resultava em última
análise do pecado.
Terceiro,
o Senhor designou a imoralidade sexual como a única base para o divórcio
(1990). A palavra usada é porneia (cf. a palavra “pornografia”), um termo um
tanto amplo que inclui outros tipos de imoralidade além do adultério.
Há muito
se entende que o ensino de Paulo em 1 Coríntios 7 acrescenta uma segunda
exceção para o divórcio. Nesse caso, um crente “não fica sujeito à servidão”,
caso o cônjuge incrédulo deixe a relação de casamento (1Co 7.12-15). Tomadas em
seu sentido literal, essas palavras parecem indicar desobrigação do compromisso
marital e, portanto, liberdade para novo casamento (cf. 7.39). Em 7.10-11 Paulo
reiterou o ensino do Senhor sobre o ideal do casamento. Os maridos e as esposas
não se separem. Mas caso o façam, devem buscar reconciliação ou permanecer sós.
A palavra aqui traduzida por “separar” (chorizo) pode
incluir o divórcio.
Parece
mais natural pressupor que a Bíblia aceita o novo casamento em casos de
imoralidade sexual e abandono. Em 1 Coríntios 7.8-9 Paulo disse que é melhor
que os “solteiros” casem-se em vez de se arriscarem à imoralidade sexual. Em 1
Coríntios 7.27-28, Paulo deu uma orientação ainda mais geral ao tratar de tais
pessoas. A palavra “solteiros” (agamos) não se
refere exclusivamente a pessoas que nunca se casaram (“virgem”, parthenos) ou a
viúvas (chera). Ela parece englobar pessoas que não se encontram casadas por
algum outro motivo. Observe o contraste entre “solteiro” e “viúvas” (7.8,39) e
“virgens” (7.27-28).
A Bíblia
destaca que o próprio Deus pretende que o casamento seja uma relação de aliança
vitalícia entre um homem e uma mulher. Deus declara seu ódio ao divórcio (Ml
2.16). Tanto o Senhor como Paulo foram coerentes ao apelar à ordenança do
casamento na criação em seu ensino. A Bíblia não exige nem recomenda em parte
alguma o divórcio. Antes, o perdão e a reconciliação são estimulados (1Co
7.11). Todas as exceções são dadas com reserva, como um meio de regular
condições pecaminosas. Em suma, a fácil aceitação do divórcio moderno é estranha
à Bíblia.
A Bíblia
como recurso para edificação da família
A
conhecida passagem de 2 Timóteo 3.16 sobre a inspiração é uma declaração não só
da origem da Bíblia, mas de sua utilidade “para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça”. É interessante que o versículo
fazia ligação entre o ministério de Timóteo na época e sua infância (2Tm 3.15).
Paulo lembrou a ele que as Escrituras que haviam moldado seu caráter na
infância agora serviam de fundamento para o trabalho de sua vida. As Escrituras
desempenhavam papel crucial na participação de Timóteo na mesma “fé sem
fingimento” que possuíam sua mãe e avó (2Tm 1.5).
Escritores
antigos como Tertuliano (falecido em cerca de 215 d.C.) afirmaram que a leitura
da Bíblia estava no centro da vida familiar cristã primitiva (À Sua Esposa 2.8). Agostinho (falecido em 430 d.C.)
menciona a leitura do salmo 101 pela família para consolo na casa de sua mãe no
funeral dela (Confissões, 10.12). Policarpo, um discípulo do apóstolo
João (falecido em cerca de 155 d.C), elogiou a igreja de Filipos pela
constância na devoção familiar: “Tenho certeza de que sois bem versados nas
sagradas Escrituras e que de nada vos esquecestes” (Aos Filipenses,
12.1).
Infelizmente,
muito dessa ênfase na devoção familiar dissolveu-se na Idade Média. A Bíblia
foi restrita ao clero, e diminuiu-se a ênfase no estudo acadêmico da Bíblia. A
Reforma (século VXI) muito fez para reviver a vida devocional da família, ainda
que não tenha chegado aos níveis dos primeiros séculos cristãos. Em anos
recentes, a prática voltou a ser negligenciada.
A
edificação bíblica da família, porém, depende da devoção familiar. Os estatutos e os
mandamentos de Deus devem ser constantemente ensinados. As crianças devem ser
criadas de modo que temam a Deus e vivam em obediência (Dt 6.1-8). De maneira
amorosa, elas devem ser instruídas e guiadas “no Senhor” (Cl 3.21; Ef 6.4).
A Bíblia
incentiva a família a criar uma atmosfera de devoção (Êx 12.25-27; Dt 12.7; Sl
78.1-8; Is 38.19), onde a Palavra de Deus seja ensinada e haja uma obediência contínua a ela. Assim, em Deuteronômio
6, os filhos são ensinadas quando os pais fazem com que os estatutos divinos
recebam atenção constante da família. Pelo aspecto negativo,
isso implica que a Bíblia não deve ser usada de forma imprecisa ou inadequada.
Pelo aspecto positivo, implica que a leitura da Bíblia ocorre com regularidade.
E, principalmente, implica que a Bíblia deve ser obedecida; e o Salvador, de
quem ela fala, adorado.
Fonte: A Bíblia e a Fé Cristã. pp.906-910.
Por
Dc Geazi Santos
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